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"Bad Education", de Cory Finley


Frank Tassone foi o superintendente de um agrupamento de escolas que chegou mesmo a ser considerado o quarto melhor do país. No entanto, a glória desvaneceu-se quando se descobriu que Tassone e Pam Gluckin, o seu braço direito na administração se encontravam envolvidos num esquema de desvio de dinheiro. O escândalo ocorreu no começo do século e ainda é tido como o maior caso de roubo escolar na história dos EUA, devido a um total de 11 milhões surripiados aos impostos dos contribuintes. Em teoria, parece uma situação vagamente simples, com pessoas boas e más, crimes e justiça. Um fait diver como outro qualquer, portanto. Contudo, será que é só isso? Cory Finley argumentará que não e o seu "Bad Education" é um exemplo fascinante de um cinema que se recusa a providenciar julgamentos morais. O Tassone que conhecemos é um homem empenhado num trabalho que reconhece como uma missão. Na sua perspetiva, nasceu para ajudar os seus alunos a conseguir alcançar uma vida melhor. É esse o desejo que o conduzirá a colocar a sua vida íntima em segundo plano, para passar noites inteiras a decorar nomes de estudantes e, quer ele entenda isso ou não, o leva a experimentar o fruto proibido e entrar no caminho da ilegalidade. "Bad Education" é, no fundo, uma tragédia contemporânea sobre a impossibilidade de satirizar uma realidade demasiado complexa. O cinema pós-moral de Finley continua a divertir e perturbar em doses idênticas.

Texto de Miguel Anjos

Título Original: "Bad Education"
Realização: Cory Finley
Argumento: Mike Makowsky
Elenco: Hugh Jackman, Allison Janey, Rafael Casal

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