"Mortal Kombat", de Simon McQuoid
Há um preconceito muito estranho no que diz respeito ao cinema de ação. Afinal, até o mais snobe (utilizamos o termo com carinho) dos cinéfilos se divertem com um qualquer “Velocidade Furiosa” enquanto ninguém está a olhar, no entanto, quando se fala no assunto ninguém tem problemas em despachar o chamado “cinema de pancadaria”. É um erro, quanto mais não seja, porque encontramos mais inventividade em qualquer “John Wick”, citando apenas um exemplo universalmente reconhecível, do que em muitos filmes suposta e/ou pretensamente sérios. "Mortal Kombat", a primeira longa-metragem de Simon McQuoid, é uma outra excelente amostra da vitalidade desse cinema musculado e estilizado.
Aliás, se dúvidas houvesse acerca das ambições deste empreendimento, os primeiros 10 minutos seriam suficientes para clarificar tudo. Ora, vejamos, tudo começa quando Bi-Han (Joe Taslim), um assassino chinês com superpoderes que lhe permitem controlar o gelo, aparece numa floresta japonesa para assassinar toda a família de um dos mais temidos ninjas do planeta, Hanzo Hasashi (Hiroyuki Sanada). De facto, Bi-Han consegue dizimar todos os inimigos que lhe passam pelo caminho ali, no entanto, sem que o esbirro se tenha apercebido disso, o clã Hasashi escondeu o seu membro mais novo, permitindo-lhe não só sobreviver ao ataque, como também continuar a linhagem.
Delirantemente sanguinolento e frenético, esse começo deixa bem claro que "Mortal Kombat" não está a tentar conquistar os espetadores de estômago fraco ou o público familiar, tudo aqui foi meticulosamente pensado e executado para corresponder a um elegante bailado de punhos ensanguentados e ossos partidos, não fosse a "história" precisamente sobre uma eventual competição. Porquê utilizar aspas? Pois bem, porque McQuoid não tem verdadeiramente nenhum interesse em encenar uma narrativa convencional, subjugada a um sistema de três atos, daí que toda a informação que necessitamos de apreender seja despachada à pressa numa única sequência, temperada por um sentido de humor corrosivo, cortesia do sempre estimável Josh Lawson, que deixa bem claro que "Mortal Kombat" reconhece o quão ridículo é este conceito de uma competição mundial, onde uma multiplicidade de reinos espaciais se propõem a lutar pelo controlo da galáxia. Contudo, esse reconhecimento não significa necessariamente um problema, pelo contrário...
Nesse sentido, podemos aproximar "Mortal Kombat" de outros títulos como "Flash Gordon" (1980) ou "O Guerreiro Sagrado" (1982), aventuras desmioladas que não se envergonhavam da sua falta de neurónios. Esta não é, portanto, uma proposta para todos os segmentos de público, mas quem apreciar sequências de ação adequadamente encenadas deve ficar bem contente com os resultados, nem que seja só por aquele terceiro ato tão exibicionista como delicioso. Resumindo tudo isto a uma analogia, "Mortal Kombat" é o equivalente cinematográfico a um calórico Double Cheeseburguer e por hambúrgueres desta qualidade vale a pena quebrar a dieta.
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