"NEM RESPIRES 2", DE RODO SAYAGUES
Em 2016, Fede Alvarez surpreendeu meio mundo com "Nem Respires", um thriller de implacável intensidade que cruzava elementos clássicos do cinema de suspense com a brutalidade dos slashers dos anos 70-80. Escusado será dizer, que quem não se tinha já rendido ao realizador uruguaio devido ao engenhoso, emotivo e contundente reboot que fez da franquia "Evil Dead", caiu aos seus pés com esse fabuloso filme.
Nos anos que se seguiram, nunca paramos de ouvir rumores sobre a possibilidade de uma sequela, contudo, ninguém os pareceu levar muito a sério. Afinal, como continuar uma narrativa que parecia fechar-se em si mesma? Pois bem, Rodo Sayagues, o co-argumentista do original e "braço direito" de Alvarez durante toda a sua carreira, encontrou uma maneira de dar continuidade a tão inusitado fenómeno.
A ideia é simples, pegar no antagonista interpretado por Stephen Lang e torná-lo no protagonista, desenvolvendo uma nova história em que ele é, senão o herói, pelo menos, uma figura redentora.
Assim, vários anos depois dos acontecimentos de "Nem Respires", reencontramos Norman Nordstrom (Lang). Desta vez, além do seu fiel amigo de quatro patas, o rottweiler Shadow, ele vive com Phoenix, uma menina que salvou de um incêndio e que se tornou sua protegida. Dada à sua experiência no exército, Norman dedica várias horas por dia a treinar Phoenix, a quem ensina técnicas de sobrevivência e defesa pessoal. No entanto, quando um grupo de criminosos violentos chega para raptar a menina e vingar-se de Norman, ele vê-se a reviver um pesadelo.
Muito se tem falado da decisão de Sayagues de ter dado o protagonismo a uma personagem que vimos cometer muitas atrocidades no passado, contudo, o realizador e argumentista cedo se demonstra ciente dessa possível controvérsia, providenciando a Norman uma complexidade curiosa, por um lado, as suas ações em "Nem Respires" são altamente condenáveis, por outro, a sua motivação não mudou. O ex-militar continua obcecado com a ideia de ser pai novamente, não olhando a meios para proteger a sua nova filha adotiva. Se no tomo anterior os seus instintos o levaram a fazer o mal, agora conduzem-no a um caminho mais respeitável, levando-o também a aperceber-se da dimensão dos pecados que cometeu previamente. Aí reside potencialmente o elemento mais interessante do todo, a possibilidade (ou impossibilidade) de redenção que advém da mesma escuridão que o motivara a anular a sua moralidade.
Novamente Lang dedica-se inteiramente à personagem, providenciando uma complexidade surpreendente a uma figura que já tinha se havia inscrito no panteão dos mais memoráveis vilões dos últimos anos. Nesse aspeto, ajuda também que o argumento tenha a inteligência de manter um ambiente frenético que impede a narrativa de se arrastar e a tensão de colapsar, assim que Norman se vê forçado a regressar à agressividade que pautou a sua existência, o restante filme nunca nos dá um momento para respirar, desenvolvendo as suas personagens e os conflitos que as unem e separam, sem momentos mortos.
Em conclusão, mesmo que "Nem Respires 2" não consiga replicar a surpresa do filme anterior, está aqui um delicioso naco de entretenimento, pontuado por sequências de ação alucinantes e atores de primeira água.
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