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Crítica: Papel De Natal, de José Miguel Ribeiro + Dodu - Balão Lua, de José Miguel Ribeiro + O Gigante, de Júlio Vanzeler e Luís Da Matta Almeida

E eis que a pouco mais de uma semana para o fim do ano, chega às salas portuguesas, aquela que é talvez a proposta mais invulgar (e também uma das mais interessantes) de 2014: "Papel De Natal" uma média metragem a combinar imagem real e animação de volumes, elaborada utilizando exclusivamente materiais reciclados.


Camila uma jovem de 8 anos cria Dodu (um rapazinho de cartão) com o objetivo de salvar Filipe, o seu pai, que se perdeu na floresta. É com base nesta simples premissa que Luís Miguel Ribeiro e Vítor Andrade (realizador e argumentista, respetivamente), criam uma "pequena" delícia de filme, meio-cómico, meio-comovente, que ao longo dos seus "curtinhos" 40 minutos nos leva numa viagem encantadora até um universo riquíssimo e muito bem animado, que nos faz sentir crianças novamente, sem nunca se reduzir a infantilidades que desrespeitem a inteligência do seu público. "Papel De Natal" é por isso um conto familiar de exceção que fascinará tanto miúdos como graúdos.


E como bónus os grandes senhores da Praça Filmes (a produtora), "servem-nos" ainda duas curtas: "Dodu - Balão Lua" e "O Gigante". A primeira conta-nos mais uma aventura do ternurento Dodu com o mesmo nível de sucesso da obra principal, enquanto que a segunda nos espanta com a sua abordagem honesta, e gentil ao amor incondicional que une pais filhos, capaz de deixar uma lágrima no olho de todos os que a vejam.
E no meio de tudo isto, só é pena que muito provavelmente este "Papel De Natal" vá passar despercebido pela maioria do público (pouca publicidade e poucas salas) que estarão demasiado ocupados com os grandes blockbusters de fim de ano, por isso se está a ler estas linhas, então siga o conselho daquele que vos escreve, e corra, não ande até ao cinema para ver um exemplo de algum do melhor cinema português a ser produzido hoje em dia.

9/10
Miguel Anjos

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