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Crítica: "Experimenter: Stanley Milgram, O Psicólogo Que Abalou a América", de Michael Almereyda


Título Original: "Experimenter"
Realização: Michael Almereyda
Argumento: Michael Almereyda
Elenco: Peter SarsgaardWinona RyderAnton Yelchin
Género: Biografia, Drama, História
Duração: 98 minutos
País: EUA
Ano: 2015
Distribuidor: Leopardo Filmes
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 04/08/2016

Crítica: Cineasta de culto, detentor de uma filmografia com tanto de eclética como de fascinante, são da sua autoria títulos tão emblemáticos como "Nadja" (um dos melhores filmes sobre vampiros jamais feitos) e "Hamlet" (estupenda adaptação da obra homónima de William Shakespeare, que mete no chinelo boa parte daquilo que se tem feito com o seu trabalho, tanto no cinema, como na televisão), Michael Almereyda regressa aos nossos ecrãs com um filme desconcertante, perturbador e altamente cativante, que parte de uma série de experiências sobre a obediência, que o psicólogo norte-americano Stanley Milgram (aqui, vivido por um notável Peter Sarsgaard) realizou, na Universidade de Yale, estávamos nós em 1951, para construir uma narrativa aterradora sobre a essência da natureza humana, com ressonâncias temáticas, políticas e simbólicas atualíssimas. Além de que, Almereyda assume uma surpreendente e admirável configuração experimental, cruzando o realismo com o artificio, um sentido de humor perverso com uma contundência moral e um nível, a espaços, elevadíssimo de tensão, tudo conjugado com uma mestria imensa. E, como não falar num elenco soberbo, composto por alguns dos mais interessantes atores destes nossos tempos, como John Leguizamo, Jim Gaffigan ou, Anton Yelchin, que mesmo tendo falecido recentemente, deixou para trás uma dezena de projetos completos (como este) e, mostra numa pequeníssima participação aquela sua presença inconfundível e, talento ilimitado. Aliás, até o canastrão Kellan Lutz tem uma performance impagável num par de cenas, como William Shatner (a fazer dupla, com Dennis Haysbert no papel de Ossie Davis com uma peruca e bigode, que roubam sequências inteiras). Em conclusão, numa altura em que tantos veteranos da sétima arte se viram para a televisão, é notável que alguém como Almereyda (que, lembremo-nos nunca trabalhou com grandes recursos ao seu dispor) continue a apostar no seu cinema teimosamente adulto.

Texto de Miguel Anjos

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