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"Porto", de Gabe Klinger



Bonito conto de cândido e comovente romantismo antiquado. Klinger continua o seu percurso como cineasta, através das memórias melancólicas de um instante perdido no tempo. Jake (Anton Yelchin) é americano, Mati (Lucie Lucas) francesa e, ambos residem no Porto. Ele trabalha numa escavação local. Ela prossegue os seus estudos numa universidade na invicta. Certo dia, os seus olhares cruzam-se e, apaixonam-se perdidamente. No entanto, rapidamente percebemos que este romance corresponde apenas a um momento fugaz… Quem conhecer o título anterior do crítico brasileiro tornado cineasta (“Jogo Duplo: Richard Linklater e James Benning”), poderá sentir a tentação de fazer comparações à emblemática trilogia “Before”, mas neste “Porto” sentimos uma angústia latente, que o texano Linklater nunca abraçou por completo. Aliás, se quisermos traçar paralelismos, o mais correto seria mencionar James Gray, outro cinéfilo classicista (porém, inovador nesse classicismo), que nunca se submete às fórmulas mais comuns. E, nesse sentido, podemos mesmo olhar “Porto” enquanto uma subversão dos clichés do cinema romântico atual, aqui entramos numa viagem até ao amago de dois seres humanos apaixonados, numa atmosfera sempre dividida entre o realismo contundente e o onirismo. Um filme lindíssimo.


Realização: Gabe Klinger
Género: Romance
Duração: 76 minutos

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