Que maravilha! “A Maldição de Larry”, a primeira longa-metragem do norte-americano Jacob Chase, é uma comovente fábula para os nossos tempos, que podemos (e devemos) encarar como um primo retorcido de “ET – O Extraterrestre”. Nele, conhecemos Oliver (Azhy Robertson), um menino diagnosticado com autismo durante a infância, que sempre se sentiu pouco adaptado ao mundo que o rodeia. Ostracizado pelos colegas de escola, que não conseguem compreender as suas peculiaridades, ele anseia por um amigo. Um dia, enquanto brinca com o tablet, é surpreendido por uma voz que o chama para brincar. É Larry, um monstro solitário que, através do aparelho, encontra uma passagem para o mundo real. Chase encena o todo como um requintado jogo de luz e sombras, demonstrando imensa criatividade na hora de encenar bons sustos, no entanto, o que distingue “A Maldição de Larry” da concorrência é a eloquência e emoção com que vai desenvolvendo um comentário acutilante sobre a solidão na sociedade contemporânea, habilmente retratada como um lugar soturno à beira da distopia, onde todas e quaisquer interações físicas começam a ser substituídas pelos prazeres do mundo digital, pedindo emprestada uma analogia ao próprio filme, deixamos de olhar os outros nos olhos e passamos a focar toda a nossa atenção nos ecrãs dos nossos telemóveis. Nesse sentido, além do conceito ser reminiscente do supracitado “ET”, apetece mencionar um outro possível familiar, “A Voz da Lua”, de Frederico Fellini, que já não era indiferente ao avanço ao esquecimento dos afetos calorosos em prol da intimidade com monitores frios. E ainda dizem que já não fazem fábulas como dantes…
"A Maldição de Larry", de Jacob Chase
Texto de Miguel Anjos
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