"Pinóquio", de Matteo Garrone
A recuperação de contos clássicos continua a estimular muitas e diversas produções à escala global. "Pinóquio", de Matteo Garrone, é um exemplo particularmente brilhante disso mesmo. Afinal, todos conhecemos a odisseia do menino de madeira, cujo nariz cresce quando mente, contudo, arriscamo-nos a dizer que nunca encontramos nenhum filme que se assemelhe a este. Nas mãos de Garrone, as infantilidades de versões anteriores esfumam-se, levando consigo uma leveza parece contaminar a maioria destas adaptações revisionistas. Pelo contrário, o que o cineasta fez com a obra de Carlo Collodi, foi combinar um sentimento de realismo cru que é, estranhamente, complementado por elementos de fantasia à beira do grotesco. O seu "Pinóquio" pertence a uma Itália rural e empobrecida, onde a generosidade vive de mãos dadas com a violência, e a dureza do quotidiano não exclui a possibilidade da magia. A conceção deste universo faz-se através da delicada elegância dos efeitos tradicionais (cenários de estúdio, maquilhagens extensas, trucagens mecânicas, etc.), colocando de lado quaisquer contribuições digitais e dando primazia ao meticuloso labor dos atores. Uma maravilha.
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