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Crítica: "Filho de Deus", de James Franco


Título Original: "Child of God"
Realização: James Franco
Argumento: James FrancoVince Jolivette
Elenco: Scott HazeTim Blake NelsonJames Franco
Género: Crime, Drama, Thriller
Duração: 104 minutos

Antes de mais e, visto estarmos perante uma obra que se adivinha polarizadora, importa dar crédito a James Franco não só pela sua versatilidade e proficuidade (só este ano tem 10 filmes prestes a serem lançados e, uma pequena participação numa série de televisão) mas, acima de tudo, pela constante ousadia que demonstra ao apostar em projetos que, à partida, se diriam impossíveis. Ora vejamos, no ano passado vimos a sua adaptação do clássico intemporal de William Faulkner, "Na Minha Morte" (que, passou completamente despercebida aquando da sua estreia comercial, um pouco por todo o lado), agora tenta a sua sorte com um trabalho de ficção ainda mais impenetrável: "Filho de Deus", baseado no livro homónimo de Cormac McCarthy, perturbador e arrepiante conto de horror sobre a decadência moral de um homem solitário e violento, que se vai afastando da sociedade que o rodeia à medida que a sua sanidade mental se vai perdendo. James Franco, sempre adepto de um estilo de realização mais experimental, constrói um filme não narrativo de forma, no mínimo, admirável, recorrendo a um ambiente de incerteza e pavor, que tenta espelhar aquilo que se passa na mente instável do seu protagonista e, por falar nele, seria ridículo não mencionar a melhor coisa que o filme tem para oferecer: uma interpretação destemida e monstruosa do texano Scott Haze, de uma loucura animal desenfreada que é tão arrebatadora quanto fascinante e, só por ele já valeria a pena sair de casa.

Texto de Miguel Anjos

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