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Crítica: "Kingsman: The Secret Service" ("Kingsman: Serviços Secretos"), de Matthew Vaugh



Caso um dia, James Bond e Kick-Ass (os franchises, não, necessariamente, as personagens) se envolvessem numa relação amorosa (com contornos sexuais notoriamente perversos) da qual resultasse a "gravidez" de um deles, é mais que muito provável que o bebé fosse semelhante a este "Kingsman: Serviços Secretos" uma hilariante e vigorosa sátira/homenagem aos filmes de espiões clássicos, adaptada a partir da BD homónima de Mark Miller.



Eggsy (uma performance de incrível humanidade e subtileza do jovem Taron Egerton) é um adolescente problemático que, com a ajuda do seu mentor Harry Hart (um Colin Firth delirante) começa um processo de treino e seleção, de enorme dureza, para ingressar numa organização secreta de espiões, escondida dentro de uma alfaiataria.


A partir daí, o que se segue é um contagiante espetáculo cinematográfico, orquestrado com uma mestria que já se veio a provar típica do cineasta, que aqui combina o humor subversivo e meta-referencial clássico da obra de Miller com uma variedade de sequências de ação deliciosamente cartoonescas e violentas, na perfeição.




Não será, com certeza, a película mais indicada para aqueles que procuram entretenimento politicamente correto, nem para os mais sensíveis, mas o amor que "Kingsman" faz transparecer (este é acima de tudo, um filme feito por fãs, para fãs) e o seu infinito valor de entretenimento, fazem com que seja impossível não o recomendar. Aliás, só pelo maravilhoso momento final em que Vaugh decide fazer uma piada polémica sobre o quão machistas são os desfechos de várias fitas de James Bond, já valeria a pena comprar bilhete.



10/10
Miguel Anjos

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