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Crítica: "Whiplash" ("Whiplash - Nos Limites"), de Damien Chazelle



O que é afinal o chamado "cinema espectáculo"?  Para a maioria da população, o termo parece referir-se única e exclusivamente ao "amontoar de efeitos visuais" presente na maioria dos blockbusters multimilionários que hoje em dia dominam a produção cinematográfica da indústria americana (o que, atenção, não é, de modo algum, um insulto a este género de películas) . Mas, pergunto eu, será que o espectáculo cinematográfico se limita a esse tipo de obras? Mas é claro que não! E para o provar está aqui esta fonte de pura adrenalina que é "Whiplash - Nos Limites" uma longa-metragem em crescendo que vai avançando a um ritmo enervante até um clímax brutal e catártico ao nível da melhor tragédia grega.



Andrew (Miles Teller, numa performance de grande complexidade emocional) é um jovem solitário e desajustado, com a ambição de um dia vir a ser um baterista mítico ao nível de Charlie Parker e Buddy Rich, um sonho que os seus familiares ignorantes vêem como um mero capricho, que na sua busca pela perfeição se acaba por ver "preso" sob o jugo de um professor abusivo (J.K. Simmons, a dar corpo a um dos mais detestáveis antagonistas de que há memória), que cedo o provoca até níveis desumanos...

E é a partir daí que o estreante Damien Chazelle vai criando este seu (arrepiante) épico sobre a violência psicológica inerente ao crescimento, e a perversa indagação acerca da pressão, dedicação e esforço a que um artista tem de ser submetido de modo a poder, verdadeiramente, ser considerado um génio.



Vibrante, intenso, e virtuoso "Whiplash" é, por isso, a verdadeira definição de "cinema espetáculo".



10/10
Miguel Anjos

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