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"Operação Hummingbird", de Kim Nguyen

De acordo com uma das personagens de “Operação Hummingbird”, um único batimento de asa de um colibri dura 16 milissegundos. Por coincidência ou não, trata-se da mesma velocidade que a informação necessita para viajar pela linha de fibra ótica que os protagonistas ambicionam construir, conectando a New York Stock Exchange ao Kansas Electronic Exchange Data Center, e permitindo-lhes aceder aos cobiçados valores da bolsa antes de qualquer outro concorrente. No entanto, ao contrário do esperado, as suas contas apenas conseguem antecipar tais dados com a antecedência de 17 milissegundos. Para um leigo na matéria, talvez, esses números pareçam irrelevantes, contudo, os protagonistas sabem bem que no mundo perverso da alta financia o milissegundo em falta pode mesmo corresponder a milhões de dólares em lucro… ou em perdas.

Dito assim, o leitor poderá ser levado a pensar que a sétima longa-metragem do canadiano Kim Nguyen (e primeira a estrear no mercado português) é inacessível. Acontece que, uma das componentes mais surpreendentes de “Operação Hummingbird” é a maneira como decide falar acerca das relações humanas sob o prisma da fibra ótica e dos neutrinos. Isto é, das inovações tecnológicas que nos aproximam e separam. Neste conto de “David e Golias contemporâneo” (o mito em questão é mencionado por múltiplas personagens), a nossa porta de entrada para esse mundo são dois primos, Vincent (Jesse Eisenberg) e Anton (Alexander Skarsgård), que embarcam numa jornada quase sacrificial que lhes providenciará dois prémios: o controlo sobre Wall Street e uma outra vitória intima (para Anton a garantia de evidenciar ao pai que não é um falhado, para Anton dinheiro suficiente para comprar uma casa no meio de nenhures, onde não tenha de conviver com ninguém, além da sua família).

Através de um conjunto de peripécias mais ou menos cruéis, pontuadas por um sarcasmo ácido, que não exclui um humanismo subtil e honesto, aquilo que Nguyen filma é, em última instância, a fraqueza congénita do próprio imaginário social: das ilusões geradas pelo dinheiro à perversidade do seu poder, este é um universo em que cada um se perde na inconsistência do coletivo a que pertence. Em resumo: uma combinação feliz de thriller financeiro, comédia social e conto moral, que sabe evitar maniqueísmos e estereótipos. Uma das melhores descobertas do ano.

Texto de Miguel Anjos

Título Original: "The Hummingbird Project"

Realização: Kim Nguyen

Argumento: Kim Nguyen

Elenco: Jesse Eisenberg, Alexander Skarsgård, Salma Hayek, Michael Mando, Johan Heldenbergh, Ayisha Issa, Sarah Goldberg, Frank Schorpion

Produtor: Pierre Even

Produtores Executivos: Fred Berger, Gladys Brookfield-Hampson, Brian Kavanaugh-Jones, Heidi Levitt, Kim Nguyen, Noah Segal, Marie Gabrielle Stewart, Christophe Toulemonde, Patrick Vandenbosch

Edição: Nicolas Chaudeurge, Arthur Tarnowski

Diretor de Fotografia: Nicolas Bolduc

Duração: 111 minutos

Distribuidor: NOS Audiovisuais

"Destroyer: Ajuste de Contas" O falhanço financeiro de um duo de produções conturbadas (“Aeon Flux” e “O Corpo de Jennifer”) remeteram Karyn Kusama a um silêncio demasiado longo. No entanto, em 2016, reencontrámo-la aos comandos de um filme francamente impressionante. Chamava-se “The Invitation” e convidava-nos a entrar na intimidade fantasmática de um homem que não conseguia ultrapassar um acontecimento traumático que o destruiu. Passou completamente ao lado do circuito comercial, contudo, tornou-se num fenómeno de culto em homevideo e deu visibilidade suficiente à sua autora para lhe permitir filmar com um orçamento mais alto (9 milhões), o apoio de um estúdio interessado em auxiliar cineastas ousados (a Annapurna) e um elenco preenchido por nomes sonantes para filmar o seu magnum opus , ou como diriam os românticos alemães do século XIX a sua Gesamtkunstwerk (“obra de arte total”). Trata-se do conto sanguinolento e melancólico de Erin Bell (Nicole Kidman). Uma

"Clímax", de Gaspar Noé Nos primeiros minutos de “Clímax” é-nos providenciado um plano aéreo de uma mulher ensanguentada a percorrer um mar de neve, eventualmente caindo prostrada no branco e nele se distendendo. É a chamada god’s eye view , um enquadramento da visão divina, que contempla as minúsculas romagens humanas lá do alto, sempre com indiferença. Essa vista alonga-se, para encontrar uma árvore, numa panorâmica lenta que vai abrindo caminho para o horizonte, orientando-se de tal modo que coloca a rapariga no céu e, por conseguinte, Deus na terra. Ainda não terminaram os segundos iniciais da sexta longa-metragem de Gaspar Noé e o mesmo já declarou que as imagens delirantes a que seremos expostos nos seguintes 95 minutos, se encontraram num intervalo permanente e perturbante entre o olhar distante de um qualquer Deus terreno e a lógica sacralizadora de um artista em busca de sensações viscerais. Caso restem dúvidas, o ecrã é imediatamente apoderado por uma

"Juliet, Nua", de Jesse Peretz Quando uma comédia romântica funciona mesmo muito bem, dão-se dois acontecimentos intrinsecamente interligados. Primeiro, começamos a acreditar nas personagens em causa, e a reconhecermo-nos nelas. Segundo, os apontamentos humorísticos convencem-nos tão bem do ambiente de aparente ligeireza, que somos completamente surpreendidos, quando a narrativa nos confronta com temáticas sérias. Felizmente, “Juliet, Nua” constitui mesmo um desses pequenos milagres. Um olhar, simultaneamente, melancólico e hilariante sobre um trio de indivíduos, que tentam encontrar o melhor caminho possível para a felicidade, dentro das situações francamente complexas, que os “assombram”. Resumindo de maneira necessariamente esquemática, esta é a história de Annie (a sempre confiável Rose Byrne), uma mulher de meia-idade, oriunda de uma pequena vila britânica, daquelas onde nunca nada parece acontecer, que namora com o intelectual Duncan (Chris O’Dowd)

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