"Rocketman", de Dexter Fletcher
Há muitos anos que Hollywood ambicionava construir um filme em torno da figura de Elton John. No entanto, o músico exigia um certo nível de controlo. “Não vivi uma vida para menores de 12 anos e quero ser honesto acerca disso.” Disse o mesmo em Cannes, quando “Rocketman” foi apresentado ao público, de certa maneira, referindo-se ao lamentável caso de “Bohemian Rhapsody”, que pintava um retrato nada fiel da vida de Freddy Mercury, pronto a ser comercializado e vendido como um evento para toda a família. Ora, Dexter Fletcher, cineasta de “Rocketman”, evita todas as armadilhas em que o filme de Bryan Singer caia, escolhendo encenar as vivências do cantor britânico como um musical à moda antiga, onde a narrativa se encontra em perfeita comunhão com a sua música.
Nesse sentido, deparamo-nos com um objeto estranhamente sedutor que parece existir como um paradoxo. Por um lado, é um exemplo modelar de um certo modelo de cinema espectáculo, bem enraizado na história da produção norte-americana (e não só, como comprovam autores como Jacques Demy ou Christophe Honoré), capaz de entreter e comover, com uma elegância francamente incomum, Por outro, trata-se mesmo de um melodrama confessional, onde Fletcher utiliza as composições de Bernie Taupin (compositor do músico e fiel amigo, que o cantor via como “o irmão que nunca teve”) para despir Elton John do seu mediatismo, no processo, encontrando um ser humano quebrado por uma situação familiar duríssima, que o levou a ser seduzido por um hedonismo destrutivo.
Assim, assistimos à revalorização de um cinema que não tem preconceitos de ser psicológico, afinal, expondo os enigmas e contradições dos laços aparentemente mais naturais. Daí a crença fundamental no labor meticuloso dos atores, que aqui têm a oportunidade de dar corpo a personagens que são seres genuinamente humanos e não bonecos ou clichés a fugir de efeitos visuais. Seguindo essa linha de pensamento, é absolutamente indispensável mencionar, pelo menos dois, Taron Egerton simultaneamente espalhafatoso e contido, introvertido e extrovertido, maior que a vida e completamente invisível como o protagonista, e Jamie Bell numa performance de rara subtileza.
Texto de Miguel Anjos
Título Original: "Rocketman"
Realização: Dexter Fletcher
Argumento: Lee Hall
Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Bryce Dallas Howard, Richard Madden, Gemma Jones, Matthew Illesley, Kit Connor
Produtores: Matthew Vaughn, David Furnish, Adam Bohling, David Reid
Produtores Executivos: Elton John, Claudia Vaughn, Brian Oliver, Steve Hamilton Shaw, Michael Gracey
Diretor de Fotografia: George Richmond
Guarda-Roupa: Julian Day
Montagem: Chris Dickens
Duração: 121 minutos
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