Xavier Giannoli nunca foi consensual entre os críticos de cinema do francófonos (nem os Cahiers du Cinéma, nem os Les Inrockuptibles reconhecem no seu cinema nada de particularmente atrativo), no entanto, títulos como “À L’Origine” ou “L'Apparition”, conquistaram outros públicos, levando Cannes e Veneza a acomodá-lo entre os seus autores habituais, no processo, providenciando-lhe um élan que alguma imprensa lhe recusou. Em “Ilusões Perdidas”, baseado no romance clássico de Honoré de Balzac, terá alcançado o pináculo da sua carreira, conseguindo um retumbante sucesso de bilheteira nas salas francesas e acumulando 15 nomeações para os maiores prémios do cinema francês, os Césares. Entende-se porquê, é que, ao encenar a odisseia tumultuosa de um jovem poeta, de coração puro, que chega à Paris do século XIX com vontade de se estabelecer no universo literário da capital e rapidamente se vende, deprava e pensa que se tornou em alguém importante, influente e indestrutível, numa sociedade em que o dinheiro compra tudo, o realizador consegue compor um fresco irónico que tanto denuncia, com um esgar perverso, uma estratificação de classes viciada como a manipulação dos media enquanto processo normalizador de uma lógica mercantilista. E enquanto vai movendo as suas personagens num baliado entre o ser e o parecer, obriga o espectador a questionar de que mundo está afinal a falar: se o de ontem, se (ou também) o de hoje. Cereja em cima do bolo, a direção de atores não falha uma nota, oferecendo a uma extensa galeria de estupendos interpretes a oportunidade de darem vida a diálogos que se assemelham a duelos, onde a eloquência anda de mãos dadas com a acutilância. O primeiro grande filme do ano.
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Texto de Miguel Anjos
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