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Crítica: "Woman In Gold" ("A Mulher De Ouro"), de Simon Curtis



É bem verdade que, ao longo dos últimos anos, a Segunda Guerra Mundial (e as suas ramificações sociais e políticas) têm vindo a ser alvo de muitas e variadas revisitações cinematográficas (e não só). Exemplo disso é este "A Mulher De Ouro" (título original: "Woman In Gold"), do cineasta britânico Simon Curtis (A Minha Semana Com Marylin"), um drama absorvente e emotivo, cuja narrativa (baseada em factos verídicos) gira em torno de Maria Altmann (1916-2011), uma judia austríaca que em nova teve de fugir do seu país, de modo a escapar à perseguição nazi. Décadas mais tarde e com a ajuda de um jovem advogado (uma interpretação extraordinária de Ryan Reynolds), Altmann regressa à Áustria para recuperar os bens da sua família apreendidos pelos nazis, entre eles o famoso quadro de Gustav Klimt, "Retrato De Adele Bloch-Bauer I". A partir daí, Curtis e o argumentista Alexi Kaye Campbell desenvolvem um drama histórico sobre a importância de enfrentar o passado (por mais doloroso que este possa ser), o preço da justiça e o valor da arte (é afinal através da cultura que o homem imortaliza as suas vivências, sonhos e receios). A crítica internacional atacou-o violentamente (há quem lhe chame "o pior filme de 2015"), o que (na humilde opinião daquele que vos escreve, é claro) consiste numa grande injustiça, até porque se é certo que "A Mulher De Ouro" não é um filme perfeito, então também não deixa de ser verdade que a história que vem contar encerra em si questões sobre as quais importa refletir. Além disso, este tipo de "crónicas" de sofrimento (hoje em dia) algo esquecidas, não devem nunca ser ignoradas.


8/10
Miguel Anjos

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