Crítica (IndieLisboa 2017): "Free Fire", de Ben Wheatley
Género: Ação, Crime, Thriller
Duração: 90 minutos
Ben Wheatley será, certamente, um dos mais fascinantes cineastas contemporâneos. Posto isto, isso não anula que seja virtualmente desconhecido do grande público, que provavelmente nunca sequer ouviu falar do seu sufocante Uma Lista a Abater (entre nós, recebeu um lançamento bizarramente limitado, sem nada que se parecesse com uma campanha publicitária) ou, o delirante Assassinos de Férias (uma das melhores e mais originais comédias românticas dos últimos anos). Ainda assim e, mesmo tendo em conta, que estamos perante uma pequena produção independente, este Free Fire é precisamente o estilo de clássico de culto imediato, com exuberantes sequências de ação, um sentido de humor certeiro e, um elenco de ilustres em prestações delirantes, que reúne todos os elementos necessários, para oferecer a este britânico, a exposição que sempre mereceu. Nele, acompanhamos uma supostamente pacífica transação de armas, entre dois grupos criminosos (um, constituído por membros do IRA e, outro por traficantes de armas americanos), que não demora a transformar-se numa orgia de sanguinolência, quando uma pequena disputa, desencadeia um longo tiroteio, que pode não deixar sobreviventes. Escusado será dizer, que com um cineasta menor aos comandos, uma comédia sangrenta, inteiramente situada num armazém degradado, poderia correr tragicamente mal, mas Wheatley não é, de modo algum, um cineasta menor e, Free Fire é uma prova máxima disso mesmo. Um espetáculo mais refinado, que qualquer blockbuster que tenhamos visto recentemente, que abandonamos com vontade de mais, tal é a comicidade (durante a projeção, as gargalhadas eram muitas e sonoras), o brilhantismo com que o britânico encena estas explosões de insanidade, a ferocidade com que cada membro do elenco, ameaça constantemente roubar toda a obra (torna-se mesmo difícil, destacar alguém, quando todos dão tanto) e, a energia do todo, que nos prende desde o primeiro minuto, para não mais nos largar mesmo até aos momentos finais. Produzido por Martin Scorsese (fã incondicional deste Ben Wheatley) e, pela primeira vez na carreira do britânico, com um elenco abrilhantado por estrelas de Hollywood (foi o primeiro filme de Brie Larson, depois da vitoria nos Óscares e, em seu redor à caras como Armie Hammer ou Sharlto Copley), com Free Fire, este realizador de culto podia muito bem ter concebido um filme vendável mais ou menos banal, mas felizmente manteve-se fiel aos princípios que sempre o guiaram e, o resultado é um dos mais prazerosos acontecimentos cinematográficos profundamente ingleses dos últimos tempos.
9/10
Texto de Miguel Anjos
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