"A Minha Vida com John F. Donovan", de Xavier Dolan
Todo o trabalho de Xavier Dolan encontra as suas raízes na sua vida e “A Minha Vida com John F. Donovan” não é exceção. Inspirado nas cartas que Dolan escreveu a Leonardo DiCaprio em criança, o sétimo filme do wunderkind canadiano centra-se em Rupert (Jacob Tremblay), um jovem enamorado por um ídolo adolescente, chamado John F. Donovan (Kit Harington), protagonista de uma novela popular. Rupert ambiciona um dia ser ator e, quem sabe, atuar lado a lado com Donovan, o que o leva a seguir um impulso peculiar: escrever-lhe uma carta. Inesperadamente, essa correspondência irá marcar as vidas de ambos. A fotografia de André Turpin (colaborador habitual de Xavier Dolan) é primorosa, e o extenso elenco de uma consistência inatacável (Harington e Bem Schnetzer, em particular), mas o dado mais impressionante é a mise en scène sempre atmosférica e sensual do canadiano, cujo cinema continua a sublimar as temáticas nucleares dos seus melodramas, aqui inteiramente encapsuladas pela sombra fantasmática de Donovan, a celebridade decadente que vive aprisionado aos horrores da sua condição, à fama que o impede de assumir a sua homossexualidade (num período temporal, onde a homofobia poderia mesmo destruir a sua carreira) e viver abertamente as suas relações. O engano passa a ser a sua verdade e poucos conseguem, de facto, conhecê-lo. Dolan permanece enquanto um dos mais subtis e contundentes analistas da condição humana, portanto.
Texto de Miguel Anjos
Título Original: “The Death and Life of John F. Donovan”
Realização: Xavier Dolan
Argumento: Xavier Dolan, Jacob Tierney
Elenco: Jacob Tremblay, Natalie Portman, Susan Sarandon, Kathy Bates, Kit Harington, Ben Schnetzer
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