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CRÍTICA - "SISU"

Puro entretenimento. A terceira longa-metragem do finlandês Jalmari Helander é um cruzamento demente entre "Mad Max" e "John Wick", com pozinhos de "Por um Punhado de Dólares" e "Sacanas Sem Lei", que coloca todas as ferramentas do meio cinematográfico ao serviço do divertimento, num exercício lúdico de deixar qualquer fã de boa "parvoíce" a salivar.

Estamos em 1944, na Lapónia, Finlândia. Aatami Korpi (Jorma Tommila) é um ex-combatente, conhecido (e temido) como "O Imortal", que virou as costas ao seu passado violento. Um dia, encontra uma enorme quantidade de ouro e parte em direção à cidade mais próxima, para começar uma vida nova. No entanto, as coisas complicam-se quando "esbarra" numa patrulha nazi, que não faz a mais pequena ideia do quão perigoso ele é...

Quem conhece os filmes anteriores de Helander, "Rare Exports" (incompreensivelmente, inédito no mercado português) e "Big Game - Instinto Caçador", saberá exatamente o que esperar. Isto é, uma premissa com o seu quê de absurdo levada ao extremo, com muitas piscadelas de olho cinéfilas, um sentido de humor anárquico e, acima de tudo, uma enorme vontade de dar prazer ao espetador.

"Sisu" cedo abandona qualquer pretensão de realismo (Aatami nunca sobreviveria a tantas atrocidades), mas, isso não faz mal nenhum, uma vez que, parte do charme do filme de Helander advém da desenvoltura com que abraça a sua natureza espetacular, abrilhantado pela coreografia exemplar das sequências de ação e pela performance quase silenciosa de Tommila (fala apenas uma vez), a convocar memórias saudosas do Uomo Senza Nome de Clint Eastwood.

Em suma, um suculento naco de entretenimento despretensioso para degustar sem culpa.

★ ★ ★ ★ ★
Texto de Miguel Anjos

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