Crítica: A Viagem Dos Cem Passos (The Hundred Foot-Journey), de Lasse Hallström
Não tem tido a vida facilitada este "A Viagem Dos Cem Passos", inicialmente pensava-se que seria um dos grandes sucessos do verão, até por ser uma das únicas propostas dentro do panorama comercial desta altura do ano a fugir à classificação de blockbuster, e depois por ter Steven Spielberg e Oprah Winfrey como produtores (sendo que cada um vem de uma longa linha de sucessos recentes). Mas a verdade é que acabou por passar completamente despercebido, especialmente em mercados europeus, e embora a crítica não costume influenciar o mercado, certamente não foi positiva para a obra o arraso que sofreu pela parte da crítica. E embora de facto não estejamos perante um grande filme (longe disso), a verdade é que também não havia razão para tanto.
E no geral, esta obra de Lasse Hallström só sofre de um verdadeiro grande problema, o pior é que este último acaba por existir num elemento fulcral para qualquer obra: o argumento. O que até acaba por ser estranho tendo em conta que o argumentista é nada mais nada menos que Steven Knight responsável pelo extraordinário "Locke", que aqui curiosamente comete todos os erros que evitou nessa obra (embora aqui a culpa também não recaia somente sobre ele, pois neste caso está simplesmente a adaptar um bestseller), nomeadamente no desenvolvimento de personagens que aqui vai alternando entre insuficiente ou inexistente, aliás com exceção do personagem de Om Puri, ninguém aqui tem muito que fazer, além disso se a primeira metade do filme avança com segurança (apesar de estar completamente presa a um mar de clichés), a segunda parte anda completamente à deriva, com a história a incorporar uma variedade de elementos puramente desnecessários, unicamente para encher espaço até à (previsível) conclusão, que vão desde atos de discriminação (sendo que este se apresenta como especialmente forçado) e até uma espécie de reboot do que veio antes. Além disto, é ainda impossível deixar de mencionar a péssima interpretação de Helen Mirren, onde um sotaque ridiculamente falso se junta a uma caricatura altamente exagerada de uma personagem já de si bastante batida neste género de filme e (com exceção de algumas cenas vagamente decentes) a um imenso overacting.
Já a nível de pontos fortes temos a lenda do cinema indiano Om Puri a apresentar um ótimo timing cómico, e a brilhar em todos os momentos dramáticos a que a obra lhe dá direito, e apesar de todos os seus problemas o argumento ainda vai conseguindo apresentar alguns frequentes e sólidos apontamentos cómicos.
E no todo este "A Viagem Dos Cem Passos" é algo inconsistente, mas apesar de tudo encerra em si boas intenções, e até algumas ideias interessantes, que só pecam por serem apresentadas de forma desorganizada entre os vários momentos mais cliché da obra, porém graças a uma realização bem ritmada que evita que o filme se arraste mais do que aquilo a que o argumento já obriga, uma boa interpretação de Om Puri e uns frequentes e sólidos apontamentos cómicos, esta obra acaba por conseguir divertir e entreter razoavelmente. Come-se bem, mas há pratos melhores em exibição.
6/10
Não tem tido a vida facilitada este "A Viagem Dos Cem Passos", inicialmente pensava-se que seria um dos grandes sucessos do verão, até por ser uma das únicas propostas dentro do panorama comercial desta altura do ano a fugir à classificação de blockbuster, e depois por ter Steven Spielberg e Oprah Winfrey como produtores (sendo que cada um vem de uma longa linha de sucessos recentes). Mas a verdade é que acabou por passar completamente despercebido, especialmente em mercados europeus, e embora a crítica não costume influenciar o mercado, certamente não foi positiva para a obra o arraso que sofreu pela parte da crítica. E embora de facto não estejamos perante um grande filme (longe disso), a verdade é que também não havia razão para tanto.
E no geral, esta obra de Lasse Hallström só sofre de um verdadeiro grande problema, o pior é que este último acaba por existir num elemento fulcral para qualquer obra: o argumento. O que até acaba por ser estranho tendo em conta que o argumentista é nada mais nada menos que Steven Knight responsável pelo extraordinário "Locke", que aqui curiosamente comete todos os erros que evitou nessa obra (embora aqui a culpa também não recaia somente sobre ele, pois neste caso está simplesmente a adaptar um bestseller), nomeadamente no desenvolvimento de personagens que aqui vai alternando entre insuficiente ou inexistente, aliás com exceção do personagem de Om Puri, ninguém aqui tem muito que fazer, além disso se a primeira metade do filme avança com segurança (apesar de estar completamente presa a um mar de clichés), a segunda parte anda completamente à deriva, com a história a incorporar uma variedade de elementos puramente desnecessários, unicamente para encher espaço até à (previsível) conclusão, que vão desde atos de discriminação (sendo que este se apresenta como especialmente forçado) e até uma espécie de reboot do que veio antes. Além disto, é ainda impossível deixar de mencionar a péssima interpretação de Helen Mirren, onde um sotaque ridiculamente falso se junta a uma caricatura altamente exagerada de uma personagem já de si bastante batida neste género de filme e (com exceção de algumas cenas vagamente decentes) a um imenso overacting.
Já a nível de pontos fortes temos a lenda do cinema indiano Om Puri a apresentar um ótimo timing cómico, e a brilhar em todos os momentos dramáticos a que a obra lhe dá direito, e apesar de todos os seus problemas o argumento ainda vai conseguindo apresentar alguns frequentes e sólidos apontamentos cómicos.
E no todo este "A Viagem Dos Cem Passos" é algo inconsistente, mas apesar de tudo encerra em si boas intenções, e até algumas ideias interessantes, que só pecam por serem apresentadas de forma desorganizada entre os vários momentos mais cliché da obra, porém graças a uma realização bem ritmada que evita que o filme se arraste mais do que aquilo a que o argumento já obriga, uma boa interpretação de Om Puri e uns frequentes e sólidos apontamentos cómicos, esta obra acaba por conseguir divertir e entreter razoavelmente. Come-se bem, mas há pratos melhores em exibição.
6/10
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