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Julho 2014: O Mês em Mini-Críticas


Quinta-Feira, 3 de Julho de 2014:

Umas Férias Inesperadas (Blended), de Frank Coraci


Adam Sandler, ficou popular pela criação de um estilo de humor familiar muito próprio que este parecer imprimir a todos os filmes que faz. Aqui a história repete-se, e felizmente com a mesma eficácia das obras anteriores que protagonizou e, por isso, e pela "reunião" do ator com Drew Barrymore, com quem protagonizou dois dos seus melhores filmes ("Um Casamento Quase Perfeito" e "A Minha Namorada Tem Amnésia"), acaba por ser uma obra perfeita para fãs, ou simplesmente para quem apenas quer 90 minutos de diversão, e nesse aspeto funciona na perfeição. Só é pena é que as obras de Sandler continuem a cometer o mesmo erro flagrante: o desinteresse pelas personagens, que aqui mais uma vez acabam por ser descuradas em favor do humor fácil.
6/10

Draft Day - Dia D, de Ivan Reitman


Em 2012 estreou "Moneyball - Jogada De Risco" e basicamente conseguiu convencer todos os que o viram que a parte mais interessante do mundo do desporto são os bastidores, e talvez por isso agora 2 anos depois Ivan Reitman (uma verdadeira lenda do cinema americano dos anos 80 tendo realizado obras como "Um Pelotão Chanfrado" ou "Os Caça-Fantasmas") pega nessa ideia para nos oferecer este "delicioso" pedaço de entretenimento old-school sobre as dificuldades de um General Manager ao longo das 24 horas mais importantes do ano para o futebol americano. Um argumento bem escrito, com pontuais e eficazes "salpicos" de humor, e duas interpretações de primeira, uma de Kevin Costner, magnífico naquele que é o melhor papel da sua carreira cinematográfica desde "Homens De Negócios" (de 2010), e Chadwick Boseman que depois de ter sido revelado no ótimo "42" continua a provar-se como um dos grandes talentos emergentes, acabam por fazer de "Draft Day" uma pequena pérola, que agradará tanto aos aficionados do desporto em questão como aqueles que não sabem nada sobre ele (como é o meu caso).
8/10

Outros filmes estreados nesta data, que não foram porém visionados: Max Magilika, Paixões Unidas, Viollete, Em Solitário

Quinta-Feira, 7 de Julho de 2014

Agentes Universitários (22 Jump Street), de Phil Lord, e Chris Miller


Quando Phil Lord, e Chris Miller adaptaram pela primeira vez a série dos anos 80 "22 Jump Steet" para cinema pouca gente pensou que a coisa fosse correr bem, mas acabou por se tornar na melhor comédia mainstream desse ano, e agora os dois regressam com uma sequela ainda melhor que o original. Repleto de momentos absolutamente hilariantes, humor referencial, uma enorme galeria de cameos, e o mesmo coração de sempre. Aqui o duo desconstrói as fórmulas em que a maioria das sequelas hoje em dia se baseiam com enorme sucesso, criando assim um dos filmes mais divertidos da temporada.
9/10

Na Terceira Pessoa (Third Person), de Paul Haggis



Paul Haggis ganhou um Óscar por um filme que não o merecia (Crash - Colisão) e, por isso, a comunidade cinéfila jurou que o iria odiar para sempre, e talvez isso tenha afetado o trabalho do cineasta, pois o seu filme anterior "No Vale De Elah" foi talvez o seu mais ignorado e também um dos seus mais fracos. Porém, contra todas as expectativas o realizador regressa agora em grande com um thriller mosaico intrigante com belíssimas interpretações de Liam Neeson, Adrien Brody, Mila Kunis, Olivia Wilde, e James Franco, e uma engenhosa ligação entre as histórias apresentadas, contudo o que faz este "Na Terceira Pessoa", passar de muito bom a excelente é o seu clímax, calmo, surpreendente, e em última instância arrasador.
9/10

Night Moves, de Kelly Richardt


Não tem tiroteios, perseguições a alta velocidade ou elaboradas sequências de ação,  ao invés disso foca-se no desenvolvimento das suas personagens, na forma como os seus atos passados e presentes, os atormentam e nas suas dificuldades de integração na sociedade a que pertencem, "Night Moves" torna-se assim um dos thrillers mais intensos e também mais ambíguos do ano. Para além disso, Jesse Eisenberg prova mais uma vez o seu enorme talento num papel misterioso que é tão arrepiante, quanto tocante.
10/10

Outros filmes estreados nesta data porém não visionados: Njinga, A Rainha De Angola, A Temporada Do Rinoceronte, As Crianças Do Sacerdote

Quinta-Feira, 17 de Julho de 2014

Planeta Dos Macacos: A Revolta (Dawn Of The Planet Of The Apes), de Matt Reeves



Em 2011, "Planeta Dos Macacos: A Origem" apanhou tudo e todos de surpresa, agora três anos depois Matt Reeves traz-nos esta sequela, e diga-se desde já que estamos perante um dos grandes filmes do ano. Uma análise das relações entre o homem e a natureza, a violência, os laços afetivos que nos unem, e por fim, o que se significa mesmo "ser humano". Empolgante e comovente, um filme verdadeiramente épico como há poucos, que sabe que por mais impressionantes que sejam as grandes cenas de ação repletas de efeitos visuais, inerentes hoje em dia ao cinema comercial, produzido nos grandes estúdios, aquilo que nos toca no cinema são aquelas pequenas cenas íntimas, onde as personagens manifestam os seus sentimentos através de palavras, gestos, ou simplesmente olhares, e esses momentos nunca são descurados no filme de Reeves, pelo contrário, são bem trabalhados, frequentes, e sempre impactantes.
10/10

O Teorema Zero (The Zero Theorem), de Terry Gilliam


Terry Gilliam é um dos mais irreverentes e originais realizadores vivos, isso é simplesmente factual, porém confesso sempre ter tido um pequeno problema com as suas obras, falo da forma como múltiplas vezes a forma ultrapassa o conteúdo, e acabamos assim a ver boas ideias transformarem-se em meros exercícios de estilo, e embora isso também aconteça aqui a espaços, tal coisa é desculpada pelos atributos que este novo trabalho do cineasta também tem. Falo principalmente da humanidade da obra, característica que de certa forma tem faltado no trabalho de Gilliam, aqui aumentada por duas enormes interpretações de Christoph Waltz, e Lucas Hedges, que interpretam basicamente uma versão adulta, e uma adolescente da mesma personagem, com o primeiro a "transpirar" solidão, e medo da possível insignificância, e o segundo demonstrando-se aqui como uma revelação, preso num universo de aborrecimento, em que tal como o protagonista vive sozinho, sem nada nem ninguém. Para além disso, destaque para a forma brilhante com que o cineasta britânico trabalha a solidão inerente ao desenvolvimento da tecnologia, tornando assim  esta distopia perturbadoramente realista.
8/10

Outros filmes estreados nesta data, que não foram porém visionados: Aviões: Equipa De Resgate, Comédia InAPPropriada, Omar, Um Castelo Em Itália, Omar


Quinta-Feira, 24 de Julho de 2014:

Snowpiercer - Expresso Do Amanhã (Snowpiercer), de Bong Joon-Ho


"Snowpiercer - Expresso Do Amanhã" é o filme perfeito. E sim, percebo que o caro leitor possa achar que isso é um exagero, mas a verdade é que tenho que me juntar aos milhões que têm aplaudido a obra de Bong Joon-Ho, pelo simples facto de que duas semanas depois de me ter sentado para ver estas duas horas de grande cinema ainda não consegui encontrar um único defeito (embora até possa reconhecer que eventualmente os tenha), nesta grande obra, pelo contrário, cada vez que penso nela melhor me parece. Aquilo que Bong Joon-Ho cria aqui é um thriller empolgante, extremamente imprevisível (fruto de uma imensidade de ótimas e deveras inteligentes reviravoltas), comovente, niilista, frenético, e como se isto só não bastasse Joon-Ho tem a "ousadia" de acabar o seu filme com um monólogo emocionalmente arrasador, e uma discussão final que põe, ainda mais em evidência, muito mais do que no resto do filme, questões morais, de difícil resposta. E, para além disso, para os que pensam que o filme é apenas mais uma overdose de efeitos visuais, esqueçam, "Snowpiercer" é acima de tudo uma metáfora sobre a luta de classes e os sistemas totalitários, metáfora essa que vem cheia de todo o tipo de questões que farão o espetador pensar, muito depois de ter saído da sala.
10/10

A Emigrante (The Immigrant), de James Gray


James Gray é um dos cineastas mais inigualáveis da atualidade, e um dos únicos verdadeiros autores vivos. E em "A Emigrante" o realizador americano prova isso mesmo novamente. O cinema de Gray continua a consistir no realismo, no desenvolvimento das suas personagens, e nos problemas do dia-a-dia, ou até mesmo as tragédias que as assolam.
No seu mais recente trabalho Gray cria uma obra levemente biográfica acerca dos seus avós que se baseia imenso em três enormes interpretações, de Marion Cotillard que o cineasta tão adequadamente compara com uma atriz de cinema mudo, aqui a atriz não precisa de dizer uma única palavra para ganhar a nossa simpatia, depois a de Jeremy Renner que inicialmente parece ser o tão desejado "príncipe encantado" que vai salvar a protagonista, mas rapidamente  deixa transparecer que é um homem caprichoso e arrogante, um grande papel que Renner interpreta com mestria. Mas que não haja dúvida que a verdadeira estrela da obra de Gray é Joaquin Phoenix, o ator fetiche do realizador, que interpreta aqui possivelmente a personagem mais ambígua da obra, Bruno um homem louco e destrutivo, que ao mesmo tempo é de uma enorme humanidade e generosidade, provando-se em última instância como um homem apaixonado disposto a tudo para trazer felicidade à sua paixão, mesmo que isso o destrua a ele.
O cinema de Gray é como sempre simples, sem artifícios ou truques, e é também emocionalmente complexo, verdadeiro, ambíguo, tocante e cheio de vida. Como sempre não há heróis no cinema de Gray, apenas pessoas normais à procura da felicidade numa realidade tangível, cuja veracidade nunca é posta em causa, aliás como é que o poderia ser quando se concretiza desta forma à nossa frente. Nunca antes tinha alguém analisado o chamado "sonho americano" desta forma com a Nova Iorque dos anos 20 a ser transformada, num local repleto de injustiça, tragédia e violência, mas ao mesmo tempo, amor, perdão, e por fim redenção.
Um dos grandes filmes de 2014.
10/10

Que Mal Fiz Eu A Deus? (Qu'est-ce qu'on a fait au Bon Dieu?), de Phillipe de Chauveron


"Que Mal Fiz Eu A Deus?" é o mais recente exemplo de um dos géneros que os franceses melhor trabalham: a comédia de costumes. E a verdade é que embora seja construído sobre fórmulas já bem assentes no panorama cinematográfico francês atual, e seja bastante previsível, esta obra de Phillipe de Chauveron, acaba por se afirmar como uma das boas surpresas da temporada, devido a um bom par de atributos, são eles o seu argumento, que o cineasta assina em conjunto com Guy Laurent conseguindo dar às personagens um bom nível de desenvolvimento, e acima de tudo sendo sempre capaz de deixar um sorriso na cara do espetador através de inteligentes momentos de humor, onde os argumentistas "brincam" com estereótipos, para além disso para um filme sobre o preconceito é de notar que o filme consegue nunca ser grosseiro, ou ofensivo, aliás pelo contrário, com a sua divertida abordagem ao tema "Que Mal Fiz Eu A Deus?" pode até ser visto como uma ode à harmonia. E em segundo, mas não menos importante temos um ótimo elenco, aqui com todos os elementos a demonstrarem um excelente timing cómico. Em conclusão uma das boas surpresas do ano.
8/10

Sex Tape - O Nosso Vídeo Proibido, de Jake Kasdan


Depois do retumbante sucesso de "Professora Baldas" Jake Kasdan, Cameron Diaz, e Jason Segel, decidiram voltar a juntar-se para fazer este "Sex Tape", que basicamente partilha o mesmo espírito do filme anterior, porém nota-se aqui uma grande melhoria sobre esse filme, falo da forma como o cineasta estabelece as suas personagens, desenvolvendo-as mais do que na sua anterior colaboração, tornando também assim mais fácil que o espetador se identifique com elas. Além disso, embora o filme de Kasdan tenha as suas imperfeições (a sua duração é curta demais, e fica no ar a ideia de que haveria aqui material para pelo menos mais meia-hora) ele consegue suplantá-las através de um humor sempre eficaz, aqui beneficiado por um elenco com bastante experiência no género, em especial Jason Segel, e Rob Corddry (tanto um como outro, já provaram, por várias vezes, serem eficazes no género), e acima de tudo por um argumento que parte de uma ideia original e fresca, em vez de se basear em fórmulas já existentes.
7/10

Outros filmes estreados nesta data, porém não visionados: Bom Dia, A Flor Do Equinócio, O Fim Do Outono

Quinta-Feira, 31 de Julho de 2014

Hércules (Hercules), de Brett Ratner


Numa altura em que cada vez mais os blockbusters se tornam filmes sérios, negros e duros, este "Hércules", não deixa de ser uma espécie de lufada de ar fresco, pelo simples facto de não nos trazer nada de novo. Confuso com o final da frase? Pois faz sentido, mas eu explico. É que esta obra de Brett Ratner é um exemplo de um tipo de grande produção americana, que parece estar a ficar extinto, um filme de aventura desmiolado, que nunca se leva a sério, e tenta apenas entreter, e nesse aspecto este "Hércules" é um vencedor. E não quero com isto dizer que a obra é uma nulidade que meramente se "vê bem", pelo contrário, o filme de Ratner até tem muito mais vantagens do que à partida seria de esperar, desde um humor eficaz, apresentado num registo adequadamente descontraído, a um twist engenhosamente colocado, o cineasta recupera aqui um certo charme "série B", que hoje em dia já não se vê muito. Com tudo isto, só é pena o péssimo desenvolvimento que é dado ao vilão que com pouco mais de umas linhas de diálogo, acaba por se tornar aos olhos do público apenas em "mais um homem com uma espada".
7/10

O Guardião Das Causas Perdidas (Kvinden I Buret), de Mikkel Nørgaard



Com o policial cada vez mais em voga nos países escandinavos chega-nos da Dinamarca, mais um exemplo, "O Guardião Das Causas Perdidas", uma obra que promete fascinar os entusiastas do género, embora diga pouco aos outros.
Dois destaques é necessário fazer de imediato, o elenco, em especial os dois protagonistas Nikolaj Lie Kaas, e Fares Fares, que apresentam aqui prestações seguras em personagens particularmente bem desenvolvidas (embora pudéssemos ter talvez passado um pouco mais de tempo com elas), e o argumento que oferece um bom desenvolvimento a uma interessante intriga, não se livrando porém de umas quantas pontas soltas, clichés do género, e um momento bizarro em que o argumentista Nikolaj Arcel parece investido em tornar a obra num remake de "Saw", recriando cenas e utilizando até falas inteiras dessa saga. Mas no todo este "O Guardião Das Causas Perdidas" é um thriller sólido, bem interpretado, e até surpreendente.
7/10


Outros filmes estreados nesta data, porém não visionados: Ruas Rivais, Belém, O Centenário Que Fugiu Pela Janela E Desapareceu, Ciúme, Quando A Noite Cai Em Bucareste Ou Metabolismo, Luminita, e Step Up 5 - Todos Dançam

Comentários

  1. The Corner é o blog perfeito para nos ajudar a escolher os filmes que não podemos perder.

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