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Cinema

Crítica: "All Eyez on Me", de Benny Boom


Título Original: "All Eyez on Me"
Realização: Benny Boom
Género: Drama, Biografia
Duração: 140 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/16
Data de Estreia (Portugal): 22/06/2017


Decorreram mais de cinco anos entre o momento em All Eyez on Me fora anunciado e, a sua estreia nos Estados Unidos (no passado dia 16 de Junho, data em que Tupac celebraria 45 anos), com uma série de movimentações nos bastidores, entre as quais se contam umas quantas mudanças de cineastas (John Singleton e Carl Franklin, ambos chegaram a aceitar o cargo, mas acabaram por abandonar o projeto), a dificultarem constantemente o começo das filmagens, que finalmente avançaram após a contratação de Demetrius Shipp Jr. como protagonista. Com esse tumultuoso processo para trás e, uma estreia arrebatadora em solo norte-americano (tendo duplicado as projeções do estúdio, para o primeiro fim-de-semana nas salas), o filme de Benny Boom (um veterano dos telediscos, especialmente, no mundo do hip hop) chega ao nosso mercado, com uma campanha de marketing robusta (a esbarrar com um lançamento bem limitado) e, poderá surpreender alguns. É que, Tupac seria tudo menos uma figura simples e fácil de encaixar no modelo meio-caricatural, que geralmente caracteriza estas produções biográficas e, felizmente Boom soube reconhecer isso e, com a ajuda do seu trio de argumentistas, resolveu construir um retrato, que mesmo utilizando elementos narrativos mais ou menos convencionais (tal como a entrevista, que serve como ponto de partida para os acontecimentos, que se seguem), consegue retratar o homem por detrás da lenda, redescobrindo a fundamental dimensão poética, que sempre marcou a sua escrita e, através de uma performance simplesmente espantosa do estreante Shipp Jr., que capta a essência, a verve do rapper norte-americano, de forma quase arrepiante, é mesmo um daqueles casos, em que nos apetece proclamar que uma estrela nasceu.

8/10
Texto de Miguel Anjos

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