"Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação de uma Harley Quinn), de Cathy Yan
Quem aprecia bastante os prazeres da imoralidade é a Harley Quinn, a ex-namorada do Joker, que Esquadrão Suicida introduziu ao mundo como uma anarca que havia dedicado a sua existência a servir os interesses do companheiro. No entanto, ela aborreceu-se de ser emocionalmente manipulada pelos caprichos de um amante abusivo que reivindicava para si os pensamentos dela e resolveu emancipar-se. Colocando-a em maus lençóis com todos aqueles que maltratou ou indispôs enquanto namorava com o príncipe do crime, e que agora, sabendo-a sem a proteção deste, a perseguem dia-e-noite. Contudo, o acontecimento que desencadeia a narrativa de Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação de uma Harley Quinn) nem está diretamente relacionado com ela, mas sim com uma carteirista de pouca monta, que comete o erro de roubar um diamante ao psicótico Roman Sionis. Harley não encaixa em nenhuma definição corrente de uma boa pessoa (ela entende e aceita que lhe chamem “cabra”), mas também não é desprovida de empatia, pelo que, decide auxiliar a rapariga a escapar das garras de Sionis.
Margot Robbie brilha como Harley, encarnando a contagiante volatilidade da sua personagem com admirável savoir fare e é muito bem acompanhada por um elenco preenchido por atores carismáticos. Jurnee-Smollet Bell surpreende com uma composição de invulgares nuances emocionais, Mary Elizabeth Winstead é instantaneamente icónica no papel de uma assassina sem sentido de humor e Ella Jay Basco é uma revelação, todavia, quem rouba o filme é Ewan McGregor ao dar vida a um vilão que não se assemelha a nenhum outro. O seu Sionis é um cruzamento extraordinariamente rocambolesco entre um dandy decadente e um mafioso sádico. Se alguém visivelmente se divertiu durante a rodagem foi mesmo ele. Oriunda dos recantos mais independentes da produção norte-americana, Cathy Yan podia ensinar a alguns veteranos como estruturar uma narrativa sem precisar de sacrificar a integridade das personagens. As protagonistas recebem tempo suficiente para estabelecerem as suas personalidades sem pressas, nem artificialismos. O resultado é óbvio: quando as vemos no meio dos sanguinolentos tiroteios, não queremos que nada de mal lhes aconteça, porque o filme se deu ao trabalho de nos explicar porque é que devíamos estar interessados no seu bem-estar.
O diretor de fotografia Matthew Libatique acompanha todas as suas movimentações com estilo, num universo que parece resumir-se a um cruzamento delicado entre a corrupção pandémica de Sin City e o irrealismo cartonesco de um episódio dos Looney Tunes, não fosssem todas as personagens caracrterizas pelo guarda-roupa exuberante de Erin Benach. Aliás, exuberante era um termo que podíamos muito bem utilizar para descrever toda a experiência de assistir a Birds of Prey (e a Fantabulástica Emancipação de uma Harley Quinn). Um imponente, empolgante e delirante entretenimento pipoqueiro, que se perfila, desde já, como um dos mais impressionantes feitos dentro do seu género em muito tempo. Quem dera a Deadpool tem esta elegância e astúcia...
Texto de Miguel Anjos
Título Original: "Birds of Prey (and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn)"
Realizadora: Cathy Yan
Argumento: Christina Hodson
Elenco: Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollett-Bell, Ewan McGregor, Rosie Perez, Ella Jay Basco, Chris Messina, Ali Wong
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