"O Caminho de Volta", de Gavin O'Connor
Certos filmes encontram-se tão visceralmente conectados aos seus protagonistas que se torna complicado ou até mesmo impossível separá-los. É precisamente isso que sucede em “O Caminho de Volta”, melodrama de recorte clássico, nascido da vontade de Ben Affleck de produzir uma longa-metragem que dialogasse com os problemas que enfrentou com o álcool. Assim, conhecemos Jack (Affleck), outrora, um basquetebolista com potencial, cuja vida tem sido marcada por inúmeras circunstâncias infelizes que o conduziram a um estado depressivo e decadente continuo, que tem uma hipótese de abandonar quando lhe é oferecido um posto como treinador a equipa a que pertenceu nos seus tempos de liceu. É uma premissa sobejamente conhecida, no entanto, o realizador e co-argumentista Gavin O’Connor tem consciência disso, optando por retirar todos e quaisquer facilitismos e conveniências da narrativa, providenciando-lhe um realismo imediato e cru, que garante ao espetador que por mais que haja boa vontade, não existem saídas limpas ou fáceis para problemas como o alcoolismo ou a depressão do protagonista, interpretado com uma justeza económica e lacónica por Affleck, num dos momentos mais impressionantes da sua carreira. Não é sempre que um filme possui a maturidade e inteligência necessárias para entender a natureza quase mitológica das dificuldades com as quais o individuo tem de lidar no seu quotidiano, e também por isso “O Caminho de Volta” é tão admirável. Afinal, estamos mesmo perante um filme para adultos que nos trata como adultos.
Texto de Miguel Anjos
Título Original: "The Way Back"
Realização: Gavin O'Connor
Argumento: Brad Ingelsby, Gavin O'Connor
Elenco: Ben Affleck, Al Madrigal, Janina Gavankar
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