"Verão de 85", de François Ozon
François Ozon é um cineasta francamente desconcertante, no melhor sentido entenda-se. De facto, é impossível encerrá-lo em qualquer padrão temático, tal é a maneira como a sua obra vai ziguezagueando por entre as referências mais variadas. Afinal, ele é autor de “Potiche – Minha Querida Mulherzinha” (2010), comédia burlesca sobre o machismo em todo o seu negrume, mas é também, por exemplo, o arqueólogo cultural que ousou assinar “Graças a Deus” (2018), um contundente retrato de um caso verídico de pedofilia no seio da Igreja Católica que irritou muita gente. Resumindo, Ozon parece mesmo ser um cineasta desprovido de medos, que se encontra disposto a experimentar os formatos mais inesperados para abordar os temas que lhe interessam. Em “Verão de 85” deparamos com uma ideia que circula por toda a sua obra. Isto é, a descoberta eufórica do amor e da sexualidade. Assim, conhecemos dois rapazes (maravilhosamente encarnados por Félix Lefebvre e Benjamin Voisin) que se conhecem e apaixonam durante o fatídico verão titular. Sempre fiel a uma tradição francesa em que o romanesco se encena sempre através de um pressentimento trágico, Ozon encena este conto de iniciação à idade adulta como uma reflexão sobre a natureza ilusória da paixão, onde coexistem maravilhamento e desencanto e todos os momentos são vividos sob a sombra da inevitabilidade da morte.
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