"SEM TEMPO PARA MORRER", DE CARY JOJI FUKUNAGA
Depois de uma espera de mais de um ano, imposta pela pandemia, aí está o 25º título oficial das aventuras de James Bond. Em “Sem Tempo para Morrer”, o norte-americano Cary Joji Fukunaga, autor de “Sem Nome” (2009) e “Jane Eyre” (2011), encena a despedida de Daniel Craig do papel que o colocou nas bocas do mundo.
Por momentos, Bond parece ter conseguido abandonar o seu quotidiano. No entanto, os fantasmas do passado reaparecem quando menos esperava, destruindo as suas hipóteses de recomeçar uma existência pacífica ao lado de Madelaine Swann (Léa Seydoux), introduzida no antecessor de “Sem Tempo para Morrer”, “Spectre” (2015).
O que acontece a seguir? Pois bem, importa manter algum secretismo, de modo a preservar as surpresas que a produção tanto se tem esforçado para tentar esconder do público. Digamos apenas que existe um confronto com os tradicionais inimigos. Um deles, interpretado por Christoph Waltz, retomando a personagem do temível Ernst Blofeld. O outro, a cargo de Rami Malek, representando um sintoma deste nosso século XXI: através de manipulações genéticas, ele quer impor uma nova ordem mundial — em nome da paz e da pureza, mesmo que isso implique criar um inferno global.
Segue-se um exemplo notável do chamado cinema espetáculo, alicerçado em recursos que continuam a estar a disposição apenas das mais dispendiosas produções, “Sem Tempo para Morrer” enche o olho do espetador com uma coleção de sequências de ação deveras impressionantes, entre perseguições e tiroteios, que se encontram entre as mais sofisticadas da franquia.
Contudo, aquilo que faz a diferença é a presença do extenso e talentoso elenco e a maneira como o argumento trabalha o cansaço emocional em que descobrimos a personagem de James Bond, tendo inclusivamente perdido a sigla 007, que agora pertença à agente Nomi (notável Lashana Lynch, ainda que o filme nunca lhe dê nada de muito interessante para fazer). Ao mesmo tempo, ele parece acreditar na possibilidade de viver uma vida diferente, dir-se-ia uma utopia romântica, com a personagem de Léa Seydoux, Madeleine, que volta a providenciar uma ressonância inesperada a todos os momentos em que aparece.
“Inesperada” também é a forma como Fukunaga e a sua equipa de argumentistas se quiseram aproximar da estrutura clássica da tragédia, como concebida pela grande tradição teatral, que humaniza a personagem principal como nunca antes e nos leva a uma conclusão surpreendentemente comovente. Fica em aberto a questão de saber quem será o intérprete "herdeiro" para o filme seguinte (os rumores apontam para o trio Idris Elba, Tom Hardy e Regé-Jean Page. Sem esquecer que a escolha de tal intérprete está assegurada pela legenda final de "007: Sem Tempo para Morrer": James Bond vai voltar.
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