"VENOM: TEMPO DE CARNIFICINA", DE ANDY SERKIS
A crítica não morreu de amores pelo primeiro "Venom", aquando do seu lançamento em 2018), no entanto, o capítulo introdutório da franquia dedicada ao inimigo do Homem-Aranha, conquistou as bilheteiras de todo o mundo, arrecadando mais de 800 milhões de dólares, consequentemente, validando os planos da Sony para dar filmes a alguns anti-heróis da Marvel (segue-se "Morbius", com Jared Leto a interpretar a personagem titular). Entende-se, portanto, que uma sequela não tenha demorado a ser encomendada. Três anos depois, chegou o tempo de reencontrar Eddie Brock (Tom Hardy), o jornalista que se torna no hospedeiro de um alienígena viscoso e esfomeado.
De imediato, importa destacar o essencial, "Venom: Tempo de Carnificina" representa uma melhoria significativa em relação ao seu predecessor. Novamente, Hardy é a maior força do filme, dando corpo ao neurótico Eddie (a meio caminho entre o Dante de "Clerks" e Woody Allen) e à criatura monstruosa de voz cava que vive em simbiose com ele e se alimenta de cérebros e chocolate (embora, de vez em quando, se contente com galinhas), a dinâmica do duo é extraordinariamente cativante, vivendo de um sentido de humor delicioso. Eles embirram por tudo e por nada e argumentista Kelly Marcel consegue tornar as suas "turras" em momentos cómicos hilariantes, repletos de boas tiradas e comentários insólitos.
Começamos num ponto frágil para o protagonista, uma vez que a polícia insiste em mantê-lo debaixo de olho, devido ao caos em que esteve envolvido no primeiro filme. Felizmente, Venom concordou em subsistir de chocolate e galinhas (em vez de cérebros humanos) por enquanto, o que não significa que esteja pronto para parar de se queixar do assunto. No entanto, os dois vêm a sua sorte a mudar quando Eddie consegue uma entrevista em exclusivo com Cletus Kasady (Woody Harrelson), um serial killer no corredor da morte, com um interesse muito especial no nosso herói. Inicialmente, as interações entre os dois providenciam fama e glória a Eddie, mas as coisas complicam-se quando o homicida é infetado por Carnificina, um simbiote similar a Venom em tudo, menos na sua capacidade de conter a sua sede de sangue.
Serkis claramente prestou atenção a tudo o que funcionou melhor e pior no primeiro tomo e escolheu abraçar os seus elementos mais anárquicos, não só o sentido de humor ácido e, por vezes, subversivo (nota-se um certo distanciamento irónico às fórmulas deste estilo de narrativas), mas também no ritmo da própria ação, reduzindo a duração que agora se fica por uns económicos e canónicos 90 minutos e se, essa escolha não resulta por completo (a fascínio que Cletus sente por Eddy desenvolve-se demasiado depressa, a ponto de nos parecer algo exagerado que o homicida tenha tido tanta facilidade em colocar a sua vida nas mãos de um perfeito desconhecido), não há como negar que impede o todo de se arrastar, nunca perdendo tempo com subenredos descartáveis, o que beneficia maioritariamente a abordagem humorística, dando um ar de alguma ligeireza a "Tempo de Carnificina".
Como é costume no universo dos super-heróis, estamos muito claramente perante uma produção dispendiosa, onde os efeitos visuais desempenham um papel fundamental na hora de providenciar uma dimensão verdadeiramente interplanetária a estas criaturas, como fica bem evidenciado no clímax, onde assistimos a uma autêntica orgia de tentáculos e explosões, que deixará o público-alvo de "Tempo de Carnificina" com um sorriso na cara.
Mas, quem nos convence mesmo são os atores e se já mencionamos Hardy, que efetivamente dá coração ao filme, é importante destacar também Woody Harrelson, aqui a apresentar uma espécie de variação da sua personagem em "Assassinos Natos", incorporando a loucura de um assassino tão extravagante que é mais ou menos impossível não ganhar uma certa afeição pelas suas intervenções caóticas. Ora aqui está, pois bem, um exemplo de um cinema que não se esquece da importância visceral do factor humano, mesmo na presença de forças extraterrestres...
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Texto de Miguel Anjos
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