Avançar para o conteúdo principal
Crítica: "Cavaleiro de Copas", de Terrence Malick


Título Original: "Knight of Cups"
Realização: Terrence Malick
Argumento: Terrence Malick
Elenco: Christian BaleCate BlanchettNatalie PortmanBrian DennehyAntonio BanderasFreida PintoWes BentleyIsabel LucasTeresa PalmerImogen Poots
Género: Drama, Romance
Duração: 118 minutos
País: EUA
Ano: 2016
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data De Estreia (Portugal): 03/03/2016

"You gave me peace. You gave me what the world can't give. Mercy. Love. Joy. All else is cloud. Mist. Be with me. Always."

Crítica: Depois de "A Árvore da Vida" (2011) e "A Essência do Amor" (2012), o norte-americano Terrence Malick está de volta com uma espantosa viagem interior, assombrada pelos enigmas da existência, até ao âmago de um herói caído em busca de uma redenção amorosa (como sempre, no cinema de Malick, são as mulheres que guardam o segredo do divino). Mais uma vez rodado sem argumento e, em grande parte improvisado pelos atores, em "Cavaleiro de Copas" (o título corresponde ao nome de uma carta de tarot) acompanhamos um momento de angústia na vida de Rick (irrepreensível Christian Bale), um argumentista que, apesar de ter conseguido singrar em Hollywood, leva uma vida vazia e sem significado. Quando não está a trabalhar, o seu dia-a-dia é marcado pelos excessos: festas, mulheres, álcool e drogas. Por momentos, quase se sente feliz e as mulheres que o rodeiam dão-lhe algum alento ou esperança no que o futuro lhe reserva. Tudo o que deseja é encontrar um sentido de autenticidade para a sua existência atormentada. Mas será isso possível? É um filme impressionante, transparente e misterioso, de um estranho romantismo e sufocante beleza (o trabalho do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki é simplesmente deslumbrante), para lá de qualquer modelo corrente, que constitui um exemplo máximo do poder do cinema enquanto arte. Não será, de modo algum, para todos os gostos, mas, sejamos sinceros, os grandes filmes nunca o são.

Texto de Miguel Anjos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Destroyer: Ajuste de Contas" O falhanço financeiro de um duo de produções conturbadas (“Aeon Flux” e “O Corpo de Jennifer”) remeteram Karyn Kusama a um silêncio demasiado longo. No entanto, em 2016, reencontrámo-la aos comandos de um filme francamente impressionante. Chamava-se “The Invitation” e convidava-nos a entrar na intimidade fantasmática de um homem que não conseguia ultrapassar um acontecimento traumático que o destruiu. Passou completamente ao lado do circuito comercial, contudo, tornou-se num fenómeno de culto em homevideo e deu visibilidade suficiente à sua autora para lhe permitir filmar com um orçamento mais alto (9 milhões), o apoio de um estúdio interessado em auxiliar cineastas ousados (a Annapurna) e um elenco preenchido por nomes sonantes para filmar o seu magnum opus , ou como diriam os românticos alemães do século XIX a sua Gesamtkunstwerk (“obra de arte total”). Trata-se do conto sanguinolento e melancólico de Erin Bell (Nicole Kidman). Uma
"Clímax", de Gaspar Noé Nos primeiros minutos de “Clímax” é-nos providenciado um plano aéreo de uma mulher ensanguentada a percorrer um mar de neve, eventualmente caindo prostrada no branco e nele se distendendo. É a chamada  god’s eye view , um enquadramento da visão divina, que contempla as minúsculas romagens humanas lá do alto, sempre com indiferença. Essa vista alonga-se, para encontrar uma árvore, numa panorâmica lenta que vai abrindo caminho para o horizonte, orientando-se de tal modo que coloca a rapariga no céu e, por conseguinte, Deus na terra. Ainda não terminaram os segundos iniciais da sexta longa-metragem de Gaspar Noé e o mesmo já declarou que as imagens delirantes a que seremos expostos nos seguintes 95 minutos, se encontraram num intervalo permanente e perturbante entre o olhar distante de um qualquer Deus terreno e a lógica sacralizadora de um artista em busca de sensações viscerais. Caso restem dúvidas, o ecrã é imediatamente apoderado por uma
"Juliet, Nua", de Jesse Peretz Quando uma comédia romântica funciona mesmo muito bem, dão-se dois acontecimentos intrinsecamente interligados. Primeiro, começamos a acreditar nas personagens em causa, e a reconhecermo-nos nelas. Segundo, os apontamentos humorísticos convencem-nos tão bem do ambiente de aparente ligeireza, que somos completamente surpreendidos, quando a narrativa nos confronta com temáticas sérias. Felizmente, “Juliet, Nua” constitui mesmo um desses pequenos milagres. Um olhar, simultaneamente, melancólico e hilariante sobre um trio de indivíduos, que tentam encontrar o melhor caminho possível para a felicidade, dentro das situações francamente complexas, que os “assombram”. Resumindo de maneira necessariamente esquemática, esta é a história de Annie (a sempre confiável Rose Byrne), uma mulher de meia-idade, oriunda de uma pequena vila britânica, daquelas onde nunca nada parece acontecer, que namora com o intelectual Duncan (Chris O’Dowd)