Avançar para o conteúdo principal

Crítica

"Amor Eterno", de Tran Ahn Hung



Título Original: "Éternité"
Realização: Tran Ahn Hung
Argumento: Tran Ahn Hung
Elenco: Audrey Tatou, Bérénice Bejo, Mélanie Laurent, Jérémie RenierPierre DeladonchampsIrène Jacob
Género: Drama
Duração: 115 minutos
Distribuição: Cinemundo
Classificação Etária: M/12
Data de Estreia (Portugal): 15/12/2016


Poema visual sumptuosamente fotografado, narrativamente reminiscente do cinema de Mallick (a conexão com a natureza, a procura pelo sagrado através do amor e, claro está, o desenvolvimento pouco convencional da narrativa), que possui um romantismo sereno e comovente que é, no mínimo, incomum nos dias que correm, no qual o grande cineasta vietnamita radicado em França, Tran Ahn Hung (na sua primeira longa-metragem em seis anos) nos conta a odisseia emocional de uma família da burguesia rural gaulesa, ao longo de várias décadas. Por entre casamentos, nascimentos e falecimentos, Tran concebe uma obra deliciosamente singular sobre os sentimentos que fazem de nós humanos, a espaços dotada de uma beleza a que apetece chamar etérea, em parte cortesia do cinematografo Ping Bin Lee (um colaborador habitual de Hsiao-Hsien Hou), cuja câmara capta cada plano com uma sofisticação e elegância bucólica que lembra Renoir, aliás não seria um exagero dizer que muitas destas imagens constituiriam belos quadros para por em cima da lareira.

9/10
Texto de Miguel Anjos

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Destroyer: Ajuste de Contas" O falhanço financeiro de um duo de produções conturbadas (“Aeon Flux” e “O Corpo de Jennifer”) remeteram Karyn Kusama a um silêncio demasiado longo. No entanto, em 2016, reencontrámo-la aos comandos de um filme francamente impressionante. Chamava-se “The Invitation” e convidava-nos a entrar na intimidade fantasmática de um homem que não conseguia ultrapassar um acontecimento traumático que o destruiu. Passou completamente ao lado do circuito comercial, contudo, tornou-se num fenómeno de culto em homevideo e deu visibilidade suficiente à sua autora para lhe permitir filmar com um orçamento mais alto (9 milhões), o apoio de um estúdio interessado em auxiliar cineastas ousados (a Annapurna) e um elenco preenchido por nomes sonantes para filmar o seu magnum opus , ou como diriam os românticos alemães do século XIX a sua Gesamtkunstwerk (“obra de arte total”). Trata-se do conto sanguinolento e melancólico de Erin Bell (Nicole Kidman). Uma
"Clímax", de Gaspar Noé Nos primeiros minutos de “Clímax” é-nos providenciado um plano aéreo de uma mulher ensanguentada a percorrer um mar de neve, eventualmente caindo prostrada no branco e nele se distendendo. É a chamada  god’s eye view , um enquadramento da visão divina, que contempla as minúsculas romagens humanas lá do alto, sempre com indiferença. Essa vista alonga-se, para encontrar uma árvore, numa panorâmica lenta que vai abrindo caminho para o horizonte, orientando-se de tal modo que coloca a rapariga no céu e, por conseguinte, Deus na terra. Ainda não terminaram os segundos iniciais da sexta longa-metragem de Gaspar Noé e o mesmo já declarou que as imagens delirantes a que seremos expostos nos seguintes 95 minutos, se encontraram num intervalo permanente e perturbante entre o olhar distante de um qualquer Deus terreno e a lógica sacralizadora de um artista em busca de sensações viscerais. Caso restem dúvidas, o ecrã é imediatamente apoderado por uma
"Juliet, Nua", de Jesse Peretz Quando uma comédia romântica funciona mesmo muito bem, dão-se dois acontecimentos intrinsecamente interligados. Primeiro, começamos a acreditar nas personagens em causa, e a reconhecermo-nos nelas. Segundo, os apontamentos humorísticos convencem-nos tão bem do ambiente de aparente ligeireza, que somos completamente surpreendidos, quando a narrativa nos confronta com temáticas sérias. Felizmente, “Juliet, Nua” constitui mesmo um desses pequenos milagres. Um olhar, simultaneamente, melancólico e hilariante sobre um trio de indivíduos, que tentam encontrar o melhor caminho possível para a felicidade, dentro das situações francamente complexas, que os “assombram”. Resumindo de maneira necessariamente esquemática, esta é a história de Annie (a sempre confiável Rose Byrne), uma mulher de meia-idade, oriunda de uma pequena vila britânica, daquelas onde nunca nada parece acontecer, que namora com o intelectual Duncan (Chris O’Dowd)