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Crítica

"Aliados", de Robert Zemeckis



Título Original: "Allied"
Realização: Robert Zemeckis
Argumento: Steven Knight
Elenco: Brad Pitt, Marion Cotillard, Jared Harris, Matthew Goode
Género: Ação, Drama, Romance
Duração: 124 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 01/12/2016


Não deixará de ser no mínimo desconcertante reparar que um autor do talento de Robert Zemeckis, até há pouquíssimos anos unanimemente encarado como um dos autores mais fascinantes e singulares da indústria cinematográfica norte-americana, se converteu num autêntico "marginal", apostando em projetos que não se parecem encaixar em nenhuma das tendências que dominam a Hollywood contemporânea. E, se "The Walk", a sua longa-metragem anterior, havia partido de uma história verídica e bem documentada para criar um imponente e comovente espetáculo visual, agora com "Aliados" Zemeckis optou pelo classicismo e, foi construir uma bonita homenagem a um certo cinema adulto com apelo comercial e qualidade, que há muito deixou de ser de produção regular… Sempre algures entre o romance de época e o thriller hitchcockiano, o experimentalista Zemeckis mostra novamente que para além das suas experiências técnicas e estéticas, é também dono de uma perícia invejável como contador de histórias (característica fundamental da sua obra que nem sempre lhe é devidamente reconhecida…), encenando esta história de paranoia e amor com mão de mestre, respeitando a complexidade das suas personagens e dando-lhes tempo para construírem as suas próprias identidades perante os olhos do espetador, e nesse sentido importa reconhecer a importância do trabalho do argumentista britânico Steven Knight (na sua primeira colaboração com o cineasta em questão) e, claro está dos atores, em particular uma Marion Cotillard simplesmente imperial e um pequeno, porém fundamental papel do eternamente subvalorizado Matthew Goode, excelente como um espião desfigurado que confere uma intensidade brutal a uma única sequência com Brad Pitt.

8/10
Texto de Miguel Anjos

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