Crítica: "Personal Shopper", de Olivier Assayas
Título Original: "Personal Shopper"
Realização: Olivier Assayas
Argumento: Olivier Assayas
Género: Drama, Mistério, Thriller
Duração: 105 minutos
Distribuidor: Leopardo Filmes
Classificação Etária: M/14
Data de Estreia (Portugal): 02/03/2017
Reencontramos o cinema deliciosamente idiossincrático do francês Oliveir Assayas, numa fita maravilhosamente rocambolesca que vem reafirmar o interesse sobejamente famoso que o cineasta nutre pela desconstrução de géneros cinematográficos, que mentalmente acabamos por nos habituar a reduzir a clichés mais ou menos banais (exemplo disso seria a forma como As Nuvens de Sils Maria brincava com as regras dos melodramas clássicos). É precisamente o que passa neste belíssimo Personal Shopper, um nada corriqueiro conto de assombrações que parte de uma premissa aparentemente simples (uma jovem norte-americana com habilidades mediúnicas, a residir em Paris começa um dia a receber sinais que podem ou não ser do seu irmão recentemente falecido) para construir uma narrativa que nos arrepia genuinamente como poucas e, no processo nos oferece uma experiência como nunca antes tivemos, que encerra em si uma melancolia terminal que é por demais contemporânea, não fosse esta uma jornada espiritual sobre uma personagem que acaba por se ver presa entre uma existência profundamente entediante e materialista e os seus desejos mais abstratos. Personagem essa a quem uma luminosa Kristen Stewart (naquela que é a sua segunda colaboração consecutiva com Assayas) dá corpo com uma contenção admirável, numa interpretação que se contará claramente entre as mais desoladamente honestas dos últimos tempos. Foi um dos acontecimentos mais divisivos de Cannes (onde arrebatou o prémio de Melhor Realizador) e não constituirá uma proposta minimamente consensual agora que chegou ao nosso mercado (nem que seja só mesmo pela relutância do autor em resolver os mistérios que a narrativa vai levantando da forma habitual), mas cinema assim tão ousado é de visionamento obrigatório.
10/10
Texto de Miguel Anjos
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