Crítica: "São Jorge", de Marco Martins
Título Original: "São Jorge"
Realização: Marco Martins
Género: Drama
Duração: 112 minutos
Distribuidor: NOS Audiovisuais
Classificação Etária: M/14
Data de Estreias (Portugal): 09/03/2017
Poderíamos facilmente descrever São Jorge (terceira longa-metragem de Marco Martins) como um cruzamento inspirado e, francamente impactante entre um realismo social (um tanto ou quanto reminiscente do cinema de Jacques Audiard) com a tradição do film noir, sem cairmos em erro, porém ao reduzir tamanho acontecimento às suas mais influências cinematográficas mais óbvias, uma vez que aquilo que Martins conseguiu com São Jorge, foi não só assinar um dos mais belos e tocantes filmes portugueses em memória recente, como também construir uma tragédia quase "apocalíptica" onde a escuridão se evidencia inevitavelmente como um calvário anunciado, na jornada de um homem completamente perdido, que se movimenta sem saber muito bem para onde ir, numa altura em que todo o país parece ter-se afogado num imenso oceano de melancolia, sem escapatória possível (Martins e Lopes, começaram mesmo a conceber o conceito do filme há cinco anos atrás, quando a crise económica "explodiu"). Começando com uma sequência ofegante e febril, que nos coloca imediatamente no universo interior da personagem principal (Nuno Lopes numa prodigiosa tour de force) de forma belíssima e, culminando num momento contido e tocante que nos comove como poucos, através de uma conjugação tonal invulgarmente brilhante, onde a fé inabalável que Jorge mantêm de que não verá o seu filho desaparecer para o outro lado oceano, de que conseguirá de alguma forma sustentar os que mais ama sem no processo perder a sua dignidade, se funde com um sentimento de desanimo que tantos atormentou durante este período malogrado de tempo, resultando num filme que muito claramente se apresenta como um clássico moderno da cinematografia local, nem que apenas pela maneira visceral como capta com justeza uma altura em que a esperança e o sonho pareciam pura e simplesmente impossíveis para os muitos, que viam a desgraça tomar conta do seu quotidiano.
9/10
Texto de Miguel Anjos
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