Apadrinhado por Chris Columbus e Martin Scorsese, Jonas Carpignano é um dos poucos realizadores contemporâneos que podemos associar à herança do neorrealismo italiano, popularizado (ou imortalizado) por autores como Vittorio De Sica ("Ladrões de Bicicletas", "Umberto D.") ou Roberto Rossellini ("Roma, Cidade Aberta", "Alemanha, Ano Zero").
Filho de mãe caribenha e pai italiano, Carpignano cresceu e estudou em Nova Iorque, no entanto, o seu trabalho dedica-se a acompanhar o quotidiano dos habitantes de Gioia Tauro, uma região particularmente pobre da Calábria. Primeiro em "Mediterrânea", sobre os refugiados vindos do Norte de África, depois em "A Ciambra", acerca da extensa comunidade cigana que ali assentou.
Em "A Chiara", Carpignano termina a chamada "Trilogia da Calábria", providenciando foco às muitas famílias envolvidas na economia clandestina criada pela Ndrangheta.
Claudio (Claudio Rotolo) e Carmela Guerrasio (Carmela Fumo) reúnem-se com amigos numa grande festa para celebrar o 18.º aniversário de Giulia (Grecia Rotolo), a filha mais velha. No dia seguinte, ele desaparece. Apesar das palavras tranquilizadoras de Carmela, a filha Chiara (Swamy Rotolo), de 15 anos, decide investigar as verdadeiras causas do seu desaparecimento, levando-a a descobrir segredos que lhe sempre lhe foram ocultados.
A grande força do cinema de Carpignano reside na sua capacidade de dar conta das convulsões intimas de um microcosmos muito específico, conciliando um realismo contundente com um filtro romanesco, que não esconde sequer uma certa proximidade dos mecanismos psicológicos e oníricos da fábula. À semelhança do que acontecia em "Mediterrânea" e "A Ciambra", em "A Chiara" a verdade emerge de um jogo denso, delicado e intrincado entre a realidade e a ficção. Os atores voltam a ser não-profissionais, neste caso, a família Rotolo, natural da zona, de onde é imperativo destacar a interprete da personagem titular, Swamy Rotolo, que se encontra presente em praticamente todas as cenas e não só carrega o filme às costa, como o eleva com o seu olhar magoado e infinitamente expressivo.
Sem julgamentos morais, complacência ou condescendência, a câmara acompanha as deambulações errantes destes heróis trágicos, deixando-se contagiar pela sua melancolia, resultando num thriller do quotidiano, envolvente e tocante, que adiciona uma fascinante adenda ao verdadeiro fresco social que Carpignano pintou com a "Trilogia da Calábria" (e, é mesmo importante ter visto os anteriores, nem que seja só para reconhecer alguns dos seus intervenientes). Quer Carpignano continue no sudoeste de Itália ou regresse à sua Nova Iorque natal, uma coisa é certa, ele é uma das vozes mais invulgares do cinema contemporâneo.
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