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Crítica: "A Juventude", de Paolo Sorrentino


Título Original: "Youth"
Realização: Paolo Sorrentino
Argumento: Paolo Sorrentino
Elenco: Michael CaineHarvey KeitelRachel WeiszPaul DanoJane Fonda
Género: Drama
Duração: 118 minutos
País: Itália | França | Suíça | Reino Unido
Ano: 2015
Data De Estreia (Portugal): 10/12/2015
Classificação Etária: M/14
Site Oficial | IMDB

I have to choose, I have to choose what is really worth telling: horror or desire? And I choose desire. You, each one of you, you open my eyes, you made me see that I should not wasting my time on the senseless fear...

Um assombro! Assim se pode descrever a mais recente longa-metragem do italiano Paolo Sorrentino (que, em 2014, levou para casa o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro com o muito aclamado "A Grande Beleza"), intitulada "A Juventude" (título original: "Youth"). Um drama tocante sobre o tempo, a memória e a melancolia inerente ao envelhecimento, através do qual seguimos Fred (arrebatador Michael Caine, naquela que será uma das suas melhores performances) e Mick (um soberbo Harvey Keiteldois amigos quase octogenários que se encontram a gozar um merecido descanso num luxuoso hotel no sopé dos Alpes Suíços. O primeiro é um maestro e compositor conceituado que há muito abandonou a carreira musical, enquanto que o segundo, é um realizador ainda no ativo que se prepara para realizar uma última obra que, segundo diz, será o seu "testamento". Naquele lugar paradisíaco, cientes do quão próximo está o fim e rodeados de pessoas de todas as idades, os dois recordam o passado e fazem planos para o futuro ao mesmo tempo que refletem sobre a juventude e o elevado preço do envelhecimento…

Refazendo uma certa sensibilidade melodramática que provém, obviamente, do classicismo italiano, Sorrentino compõe um filme de desencantado realismo que, em qualquer caso, atrai uma subtil dimensão de fábula existencial, e aqui o cuidado posto no trabalho dos atores é essencial e, para além dos dois protagonistas, importa citar, Jane Fonda, que acaba de receber uma nomeação para os Globos De Ouro pelo seu retrato de uma velha diva do mundo do cinema, e o sempre fiável Paul Dano, que aqui compõe com aquela subtileza que lhe é muito particular um jovem ator melancólico, em busca do seu lugar no mundo. Que não haja dúvidas, "A Juventude" não será, de modo algum, para todos os gostos, não fosse, aliás, Sorrentino um dos cineastas mais divisivos da atualidade, mas cinema assim tão bonito e livre não é de se desperdiçar.

Classificação: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10
Texto de Miguel Anjos

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