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Crítica: "Negócio das Arábias", de Tom Tykwer


Título Original: "A Hologram for the King"
Realização: Tom Tykwer
Argumento: Tom Tykwer
Elenco: Tom HanksAlexander BlackSarita Choudhury
Género: Comédia, Drama
Duração: 97 minutos
País: Reino Unido | França | Alemanha | EUA
Ano: 2016
Distribuidor: Pris Audiovisuais
Classificação Etária: M/12
Data De Estreia (Portugal): 05/05/2016

Com uma filmografia de excelência onde cabem títulos tão diversos quanto o eletrizante "Corre, Lola, Corre", ao épico "Cloud Atlas", passando por pequenas pérolas como "Três" ou "O Perfume - História de um Assassino", o alemão Tom Tykwer está de regresso com "Negócio das Arábias" (tradução bem foleira do original "A Hologram for the King"), uma comédia dramática que novamente evidencia Tykwer como um artista invulgar, sempre a operar a paredes meias entre a experimentação e um certo "realismo à flor da pele". A história acompanha Alan Clay (um Tom Hanks notável), um empresário norte-americano, que viaja até à Arábia Saudita com o objetivo de vender um inovador sistema holográfico tridimensional, passível de ser utilizado em videoconferências ao próprio chefe de estado daquele país, que planeia construir uma grande cidade no meio do deserto. Porém, Alan atravessa uma crise existencial, sentindo-se culpado pelo fim do seu casamento e pela sua incapacidade de pagar os estudos universitários da sua filha. Ele é, afinal, um homem estagnado num ponto da sua vida em que a negatividade emocional não o deixa avançar e, nesse papel, Hanks é, de facto, extraordinário naquela que é uma das suas prestações mais subtis, mas também mais interessantes, em muito tempo. Por outro lado, e também merecedor de destaque o estreante Alexander Black que, na pele do motorista de Hanks, acaba por protagonizar alguns dos momentos mais divertidos do filme e desenvolver uma química genuína com o seu parceiro de cena, que confere uma maior autenticidade às cenas que partilham. Já Tykwer (que, para além de realizar, também assina o argumento) continua igual a si mesmo, ou seja, um observador atento das convulsões emocionais das suas personagens, com um domínio narrativo e estético completo, provando-se de novo capaz de produzir uma obra com grande apelo comercial sem perder as marcas que dele fazem um "autor".

Texto de Miguel Anjos

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