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IndieLisboa 2016

Crítica: "James White", de Josh Mond



Título Original: "James White"
Realização: Josh Mond
Argumento: Josh Mond
Elenco: Christopher AbbottCynthia NixonScott Mescudi
Género: Drama
Duração: 85 minutos
País: EUA
Ano: 2015

Há filmes que são um soco no estomago e depois há outros que são uma sova completa, "James White", primeira longa-metragem de Josh Mond (produtor de clássicos modernos do cinema independente como "Afterschool - Depois das Aulas", de Antonio Campos ou "Martha Marcy May Marlene", de Sean Durkin) enquanto cineasta, pertence firmemente à segunda categoria. Um drama obsessivo, honesto e tocante, no qual seguimos a história de um jovem nova-iorquino, com um feitio volátil e um comportamento autodestrutivo, que acaba de perder o pai e pode também estar perto de perder a mãe, que sofre de um cancro. Um dia, para escapar às atribulações várias da sua existência, este decide escapar com uns amigos para o México, onde acaba por conhecer uma rapariga que se torna sua namorada, porém, rapidamente se vê forçado a voltar quando a saúde da mãe piora. Ora e o mínimo que se pode dizer acerca do trabalho de Mond (que se inspirou numa tragédia pessoal, a morte da mãe, para fazer este filme) é que ele decidiu arriscar numa invulgar mise en scène, onde toda a ação é construída como uma deambulação sempre ligada aos movimentos do seu protagonista (para dar uma ideia concreta, começamos e acabamos da mesma forma, com um grande plano, por sinal arrebatador em ambas as instâncias, do protagonista a encher todo o ecrã) criando assim uma ideia de proximidade que pode ser desconfortável, mas nunca intrusiva ou violenta, que reforça a componente intimista da narrativa. E depois, há o elenco e se, de facto, não há por aqui nenhum elo fraco, não há como negar que o filme pertence a um extraordinário Christopher Abbott (um amigo próximo do cineasta) que, no papel principal tem o tipo de interpretação que revela um ator e só não dizemos que este é um one man show porque também lá está uma Cynthia Nixon absolutamente incrível. Não é um filme fácil, é duro (a segunda metade com a sua dilacerante sucessão de socos no estomago é das coisas mais brutais que temos visto nos últimos tempos), mas uma fita deste nível não pode passar despercebida.

Texto de Miguel Anjos

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